Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 06/01/2020 às 07:47:36

Dia Mundial da Paz

Acabamos de celebrar as festas de Natal e de Ano Novo. Espero que tenham sido cheias de paz e de alegria. No entanto, nosso mundo continua ameaçado pelo ódio, a vingança, as chacinas e a indiferença diante do sofrimento alheio. Assiste-se a banalização da violência. Até em manifestações religiosas se tem visto pessoas de grande responsabilidade social incitando a massa com gestos de mãos como se fossem armas.

Nós cristãos não podemos nos deixar contaminar por este clima. A paz, a fraternidade e a solidariedade são os nossos grandes objetivos. As festas de final e início de ano ajudam-nos a renovar esta proposta. Espero que você esteja iniciando o ano com uma esperança muito grande e um desejo bem forte em seu coração de se lançar de corpo e alma na construção do Reino de Deus que é, como rezamos no prefácio da missa de Cristo Rei, um Reino eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz.

A paz é um profundo anseio do ser humano de todos os tempos e de todos os lugares. Mas infelizmente este desejo ainda parece miragem. Todos sofrem com a violência e a falta de paz. As crianças, no entanto, são as vítimas mais vulneráveis. Muitas delas, como lembrou o Papa São João Paulo II, correm o risco de chegar à idade adulta sem nunca terem feito a experiência da paz. Além de vítimas, com freqüência, as crianças são constrangidas a se tornarem protagonistas da violência e do ódio. É o caso, das crianças envolvidas em gangues do tráfico.

Nossa Igreja católica tem, nos últimos tempos, assumido com muito empenho a causa da paz. Neste sentido, em 1969, o Papa São Paulo VI determinou que os católicos do mundo inteiro celebrem o dia primeiro de cada ano como “Dia Mundial da Paz”. Desde aquela data, os Papas enviam uma mensagem, motivando a celebração da efeméride.

Para 2020, a mensagem do Papa Francisco tem como título “A Paz como Caminho de Esperança: Diálogo, Reconciliação e Conversão Ecológica”.

O Papa começa afirmando que “a paz é um bem precioso, objeto de nossa esperança”. Constata, portanto, que paz ainda não está ao alcance de nossas mãos. Pelo contrário, “abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios”. Por isso mesmo, “a paz é uma construção que deve estar constantemente a ser edificada, um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum”.

Uma condição necessária a ser observada na busca da paz é a preservação da memória de fatos tristes do passado. “Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno”. A memória deve ser preservada “não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a verdade para as opções de paz presentes e futuras”.

A construção da paz passa também pela economia e pela ecologia. A paz jamais será atingida se não forem levadas em conta “as conseqüências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza”.

O Papa termina sua mensagem voltando ao início e reafirmando que “a paz é objeto de nossa esperança” e que para obtê-la, precisamos esperar.

Aqui vale um esclarecimento para que não se confunda desejo com esperança. Se eu digo: “Espero que amanhã seja um dia de sol”. Isto não é esperança, é apenas um desejo, pois não tenho nenhuma possibilidade de interferir no clima para que o sol apareça. Esperança supõe engajamento de quem espera para que aconteça aquilo que se espera. Esperança têm o agricultor e o pescador que interferem diretamente na realização daquilo que estão esperando: a colheita ou a pesca. É neste sentido que o Papa afirma: “Não se obtém a paz, se não a esperamos”.

 

 

 Dom Manoel João Francisco

 Bispo Diocesano


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