Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 12/02/2016 às 08:49:50

Quaresma

Quarta feira de Cinzas, iniciamos o tempo da Quaresma e, com a Quaresma iniciamos também a Campanha da Fraternidade.

A Quaresma, como sabemos, é um período muito especial na Igreja católica. Durante a Quaresma somos convidados a renovar nossa vida de cristãos. A oração do dia, no primeiro Domingo da Quaresma é bem clara neste sentido: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa”.

Nos primórdios do cristianismo a Quaresma era marcada por duas categorias de cristãos: os catecúmenos, ou seja, os que estavam se preparando para receber o batismo e os penitentes que, tendo sido infiéis às promessas do batismo, haviam cometido graves delitos contra a própria fé.

Naquela época não era fácil ser cristão. A sociedade, majoritariamente pagã, colocava muitos obstáculos. Os que se dispunham assumir o batismo deviam estar bem conscientes dos perigos que haveriam de enfrentar. Um candidato ao batismo devia demonstrar que sua decisão era séria e madura. Por isso, passava por um processo de iniciação, chamado catecumenato, que durava três anos, no mínimo. Na Quaresma do terceiro ano, as provas se intensificavam, com muito jejum, oração e prática de amor ao próximo.

Apesar do rigor deste processo, alguns depois do batismo não conseguiam ser fiéis aos compromissos assumidos. Cometiam graves delitos contra Deus e a comunidade. Desejando ser de novo acolhido entre os irmãos de fé, deviam entrar na “ordem dos penitentes” um processo bem mais rigoroso do que o catecumenato. Era um processo que, além das provas, se caracterizava pela duração. Às vezes, durava vinte anos. Durante a Quaresma do último ano na “ordem dos penitentes”, as provas também se intensificavam.

Com o passar do tempo o rigor foi se atenuando, tanto para os catecúmenos, quanto para os penitentes. Por solidariedade, os demais fiéis passaram a praticar as mesmas provas. Hoje, a Quaresma é o período em que os cristãos, os católicos de modo especial, são convidados a rejuvenescer a reavivar a fé, refletindo sobre a graça batismal, ou a retornar à vida de fé, se por infelicidade tenham dela se afastado, através de um processo penitencial, coroando-o com a celebração do sacramento do perdão, a confissão.

Aqui no Brasil, há mais de cinqüenta anos, durante a Quaresma a Igreja, convida seus filhos e filhas para refletir e se converter de certos pecados graves que são da responsabilidade de todos. Neste ano, irmãos de outras Igrejas estão conosco na mesma proposta. A Campanha da Fraternidade deste ano é ecumênica. Sob a luz do lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca, inspirado no profeta Amós, queremos nos converter dos pecados que cometemos contra nossa casa comum – a mãe terra, “assegurando o direito ao saneamento básico para todas as pessoas, e empenhando-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.

Para nos converter precisamos tomar consciência de nosso pecado. Por isso, os subsídios da Campanha da Fraternidade apontam para os mais evidentes:

1)    O Brasil está entre os vinte países do mundo nos quais as pessoas têm menos acesso aos banheiros;

2)    Somente 82% da população brasileira têm acesso à água tratada;

3)    Cerca de cem milhões de pessoas no país não possuem coleta de esgoto, e somente 39% do que é coletado é tratado;

4)    Apenas 27,1% das residências, na Região Nordeste, contam com saneamento básico;

5)    Cada brasileiro gera, em média, 1 quilo de resíduos sólidos diariamente.

Tudo isso é muito sério. Milhares de pessoas podem ser atingidas por doenças como diarréia, cólera, hepatite, febre tifóide por causa da precariedade no que se refere ao abastecimento de água potável, esgoto sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, etc.

Nesta questão, todos nós precisamos de conversão. Não podemos achar que a solução depende apenas do Governo. Nossos gestos e ações, por mais simples que possam ser, dão autenticidade à nossa conversão. Mãos à obra! Por exemplo: utilizar a água da chuva para fins alternativos (lavar calçada, quintal, veículos); reutilizar a água, quando possível; informar-nos e acompanhar o plano de saneamento básico de nosso município; separar o lixo, facilitando a coleta seletiva. Tudo isso, são gestos muito simples, mas de importância muito grande para a nossa própria saúde e a de nossos irmãos.


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