Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 25/04/2016 às 08:39:55

“Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade”

De 06 a 15 e abril, cerca de 350 bispos estiveram em Aparecida para participar da 54ª Assembleia da CNBB. Vários e diversificados foram os temas discutidos e encaminhados. Pela terceira vez, os leigos e as leigas foram alvo de reflexão. Nos outros anos foram publicados na coleção – Estudos da CNBB – dois textos intitulados “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade”. Estes textos foram estudados e emendados por muitos grupos em todo o Brasil. Tudo sob a coordenação do Conselho Nacional de Leigos e da Comissão Episcopal para o Laicato. Desta vez, o texto foi aprovado de forma definitiva. Por isso vai ser publicado na coleção – Documentos da CNBB. É, portanto, um texto oficial que vai orientar e iluminar a ação dos católicos leigos e leigas do Brasil.

            O texto contém uma introdução, três capítulos e uma conclusão com muito conteúdo. Não vai ser possível, neste pequeno espaço que temos à disposição, dar uma visão completa do documento. Quero apenas chamar atenção para sua importância e para a necessidade de lê-lo com calma, aprofundando seu conteúdo com estudos em grupos. Por ora me deterei no que diz a introdução.

Além dos agradecimentos aos leigos e leigas “pelo testemunho de sua fé. pelo amor e dedicação à Igreja e pelo entusiasmo com que se doam ao nosso povo, às nossas comunidades, às suas famílias e às suas atividades profissionais”, na introdução, os bispos reafirmam a urgência de se “abrir espaços de participação, estimular a missão, refletir sobre avanços e retrocessos, para fazer crescer a participação e o protagonismo dos leigos e leigas na corresponsabilidade e na comunhão de todo o povo de Deus”.

         Ainda na introdução os bispos, citando o Concílio Vaticano II, e os pronunciamentos dos Papas, chamam a atenção para o caráter secular que caracteriza a ação do católico leigo e leiga. Diz-nos o Concílio que “a vocação própria dos leigos é administrar e ordenar as coisas temporais, em busca do Reino de Deus. (...). Compete-lhes, pois, de modo especial, iluminar e organizar as coisas temporais a que estão vinculados, para que elas se orientem por Cristo e se desenvolvam em louvor do criador e do redentor” (LG 31). Numa interpretação quase que imediata do Concílio, o Papa Beato Paulo VI, em sua famosa Exortação Apostólica Pós-Sinodal – Evangelii Nuntiandi – assim se expressa: A primeira e imediata tarefa do leigo e da leiga “não é a instituição e o desenvolvimento da comunidade eclesial – esse é o papel específico dos pastores – mas sim (...) o vasto e complicado mundo da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, do mass media e, ainda, de outras realidades abertas à evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento” (EN 70).

         A carência de pastores, no entanto, pede que os leigos e leigas também se envolvam com a pastoral. Neste sentido, os bispos, em consonância com o Documento de Aparecida, enfatizam que “os leigos também são chamados a participar da ação pastoral da Igreja” (DAp 21)”. Reforçando seu pensamento citam o Papa Francisco, que na sua Exortação Evangelii Gaudium afirmou: “A imensa maioria do povo de Deus é constituída por leigos. Ao seu serviço está uma minoria: os ministros ordenados. Cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja. Embora não suficiente, pode-se contar com numeroso laicato, dotado de um arraigado sentido de comunidade e uma grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé” (EG 102).

         Nesta introdução, os bispos também fazem questão de esclarecer o objetivo do documento. Segundo eles, os cristãos leigos e leigas são verdadeiros sujeitos eclesiais. Por isso sua ação na Igreja não acontece somente por causa da falta de padres. A ação do leigo e da leiga decorre da missão recebida no batismo e na crisma. Por isso, eles e elas são, a titulo próprio, sujeitos na Igreja e na sociedade. Neste sentido ainda temos um longo caminho a percorrer. Um clericalismo encalacrado na cabeça, não só de padres e bispos, mas de muitos leigos e leigas, impede que aconteça avanços mais significativos. Oxalá, nossa Igreja, guiada por seus pastores, fermentada por seus leigos e leigas e fortalecida pelas luzes do Espírito Santo alcance este objetivo o quanto antes.


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