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Postado dia 21/03/2018 às 08:44:53

Dom Oscar Arnulfo Romero 38 anos do martírio

No próximo sábado completar-se-ão 38 anos do martírio de Dom Oscar Arnulfo Romero, Arcebispo de San Salvador em El Salvador.

No último dia 07 de março, o Papa Francisco autorizou a Congregação das Causas dos Santos a promulgar o decreto que reconhece o milagre atribuído à intercessão do hoje beato Dom Oscar Romero e marcou a data de sua canonização para o mês de outubro próximo. Desde sua morte, o sensus fidei de boa parte dos católicos latino-americanos já o tinha canonizado com o título de “São Romero da América”. Trinta e oito anos depois, o processo de canonização chegou ao fim, oficializando o que o “instinto sobrenatural” dos fiéis já havia feito.

Dom Romero foi mártir antes de sua morte e depois de sua morte, como muito bem declarou o Papa Francisco, no dia 30 de outubro de 2015, ao receber em audiência no Vaticano uma delegação de 400 salvadorenhos. Foram estas as palavras do Papa:

“Eu gostaria de acrescentar algo que talvez passe despercebido. O martírio de Dom Romero não foi pontual no momento de sua morte: foi um martírio-testemunho, sofrimento anterior, perseguição anterior, até a sua morte. Mas também posterior. Porque uma vez morto, eu era sacerdote jovem e fui testemunha disso. Uma vez morto, ele foi difamado, caluniado, enlameado. O seu martírio continuou, inclusive por alguns de seus irmãos no sacerdócio e no episcopado. Não digo isso por ter ouvido falar. Eu escutei essas coisas. Por outro lado, também é bonito vê-lo assim. Um homem que continuou sendo mártir. Com certeza agora quase ninguém mais se atreveria a martirizá-lo, mas, o fato é que, depois de ter dado a vida, ele continuou a dá-la, deixando-se açoitar por todas essas incompreensões e calúnias. Isso me dá forças, só Deus sabe. Só Deus sabe as histórias das pessoas e, quantas vezes, pessoas que já deram a vida ou que morreram continuam sendo apedrejadas com a pedra mais dura que existe no mundo: a língua!”.

Conscientes da perseguição e do martírio que Dom Romero estava vivendo, antes que sua vida fosse eliminada por uma bala certeira, um grupo de mais de trinta bispos, presentes da Conferência do Episcopado latino-americano em Puebla, no México, em 1979 enviou-lhe uma mensagem de apoio em que, entre outras coisas, afirmavam: “Estamos conscientes de que nesta tarefa te acompanha a cruz. Porém, é precisamente através da prova que mostramos nossa fidelidade cristã ao Evangelho. Em tua Arquidiocese, em dois anos, quatro de teus sacerdotes, foram assinados juntamente com vários leigos, mais de dez foram expulsos, foram executados atentados contra instituições eclesiais, o povo dos pobres, destinatário principal da missão da Igreja, tem sido reprimido de maneira crescente, e a missão de tua Igreja obstaculizada continuamente, amedrontando catequistas e celebradores da Palavra, tornando, desta forma, perigosa a convocação das comunidades cristãs. Em meio a tudo isso, acusado e difamado junto com todos que buscam caminhos, tu tens te mantido firme, sabendo que é preciso obedecer mais a Deus do que aos homens”.

Dom Romero foi martirizado porque foi um pastor com o cheiro de ovelhas. Estava convicto de que a “Igreja não pode ser surda, nem muda diante do clamor de milhões de pessoas que gritam libertação, oprimidas de mil escravidões”.

Ele sabia do risco que corria, mas para ele, a segurança do seu rebanho era muito mais importante do que a sua própria segurança. Na homilia do dia 24 de fevereiro de 1980, ao comentar a violência sofrida pelo seu povo, declarou: “Falo em primeira pessoa porque esta semana me chegou um aviso de que estou na lista dos que vão ser eliminados na semana que vem. Que fique registrado: a voz da justiça ninguém poderá matar jamais”. Numa outra oportunidade declarou: “Tenho sido ameaçado de morte frequentemente. Devo dizer-lhes que como cristão não creio na morte, mas na ressurreição. Se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo-lhes sem nenhum amor próprio, com a maior humildade. Como pastor estou obrigado, por mandado divino, a dar a vida pelos que amo, que são todos os salvadorenhos, mesmo aqueles que irão me assassinar. (...). O martírio é uma graça que não creio merecer. Porém, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança será logo realidade”.

A partir de outubro próximo Dom Romero poderá ser venerado em qualquer parte do mundo. Que o aniversário de seu martírio e a proximidade de sua canonização traga a todos nós a coragem e o zelo apostólico que marcou o seu ministério na Arquidiocese de San Salvador.

Dom Manoel João Francisco - Bispo Diocesano


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