Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 26/02/2016 às 14:01:07

Nossa responsabilidade

No contexto do Ano Santo da Misericórdia estamos celebrando a Quaresma e com ela a Campanha da Fraternidade de 2016 promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e outros organismos ecumênicos do Brasil.

No próximo domingo, o terceiro da Quaresma, as leituras que serão proclamadas, nas missas e celebrações da Palavra, têm como tema principal a conversão. Conversão significa o caminho de volta ao Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado. Ao falar de conversão os teólogos gostam de usar a palavra metánoia. É uma palavra que tem sua origem na língua grega. É composta da partícula meta que quer dizer “mais além” e do substantivo nous que significa “mente”. Portanto ao usarmos a palavra metánoia estamos chamando a atenção para o caráter intelectual do processo de nossa conversão. Converte-se quem ultrapassa a mentalidade que nossa incoerência moral produziu. Na língua hebraica em que foi escrito o Antigo Testamento a palavra conversão tem caráter mais concreto e prático. Tem o sentido de regressar, voltar, mudar de rumo. Se antes caminhávamos para outras direções, buscando-nos a nós mesmos, com a conversão somos convidados a caminhar para o Senhor. O Senhor envia seus mensageiros para nos dizer: “Voltai de todo o coração, para o Senhor...” (1Sm 7,3).

A Bíblia também nos lembra que conversão é graça. “Dar-vos-ei um coração novo” (Ez 36,25-29); Vou eu mesmo seduzi-la, conduzi-la ao deserto, e falar-lhe ao coração (Os 2,16); No paraíso, após o pecado, é Deus quem chama Adão (Gn 3,9); No Evangelho, Cristo vai à procura da ovelha (Lc 15,4-7).

Durante todo este tempo de Quaresma vamos pedir ao Senhor a graça da conversão que precisa brotar no coração e manifestar-se em nossa prática pessoal, comunitária e social. Neste ano somos convidados a nos converter no que diz respeito ao saneamento básico. O convite nos é feito através dos nossos pastores, tendo a frente o Papa Francisco que nos enviou uma mensagem na Quarta feira de Cinzas, por ocasião do lançamento da Campanha da fraternidade. Assim nos fala o Papa:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Em sua grande misericórdia, Deus não se cansa de nos oferecer sua bênção e sua graça e de nos chamar à conversão e ao crescimento na fé. No Brasil, desde 1963, se realiza durante a Quaresma a Campanha da Fraternidade. Ela propõe cada ano uma motivação comunitária para a conversão e a mudança de vida. Em 2016, a Campanha da Fraternidade trata do saneamento básico. Ela tem como tema: “Casa comum, nossa responsabilidade”. Seu lema bíblico é tomado do Profeta Amós: “Quero ver o direito brotar como fonte e a justiça qual riacho que não seca”. (Am 5, 24). (...).

O objetivo principal deste ano é o de contribuir para que seja assegurado o direito essencial de todos ao saneamento básico. Para tanto, apela a todas as pessoas, convidando-as a se empenharem com políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum.

Todos nós temos responsabilidade por nossa Casa Comum, ela envolve os governantes e toda a sociedade. Por meio desta Campanha da Fraternidade, as pessoas e comunidades são convidadas a se mobilizar, a partir dos locais em que vivem. São chamadas a tomar iniciativas em que se unam as Igrejas e as diversas expressões religiosas e todas as pessoas de boa vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico. O acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação da pobreza e da fome, para a superação dos altos índices de mortalidade infantil e de doenças evitáveis, e para a sustentabilidade ambiental.

Na encíclica Laudato Si´, recordei que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos” (n.30) e que a grave dívida social para com os pobres é parcialmente saldada quando se desenvolvem programas para prover água limpa e saneamento às populações mais pobres (cf. ibid.) (...).

Queridos irmãos e irmãs, (...) eu os convido, principalmente durante esta Quaresma, motivados pela Campanha da Fraternidade Ecumênica, a redescobrir como nossa espiritualidade se aprofunda quando superamos “a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor” e descobrimos que Jesus quer “que toquemos a carne sofredora dos outros” (Evangelii Gaudium, n. 270), dedicando-nos ao “cuidado generoso e cheio de ternura” (Laudato Si´, n. 220) de nossos irmãos e irmãs e de toda a criação.

Não deixemos que este convite tão claro e firme que brota do coração do nosso Papa fique soando em vão. Não esqueçamos, converter-se é mudar de rumo, de atitudes, de vida...


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