Desde o dia 06 de março deste ano de 2019, estamos vivendo o precioso tempo da Quaresma, período em que Deus nos convida, de modo especial, à conversão.
Durante a Quaresma, somos convidados a renovar nossa vida de cristãos. A oração da coleta do primeiro Domingo é bem clara neste sentido: “Concedei-nos, ó Deus onipotente, que ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder ao seu amor por uma vida santa”.
Nos primórdios do cristianismo a Quaresma era marcada por duas categorias de cristãos: os catecúmenos, ou seja, os que estavam se preparando para receber o batismo e os penitentes que, tendo sido infiéis às promessas batismais, haviam cometido graves delitos contra a própria fé, e desejavam voltar a viver no seio da Igreja.
Naquela época não era fácil ser cristão. A sociedade, majoritariamente pagã, colocava muitos obstáculos. Os que se dispunham assumir o batismo deviam estar bem conscientes dos perigos que haveriam de enfrentar. Um candidato ao batismo devia demonstrar que sua decisão era séria e madura. Por isso, passava por um processo de iniciação, chamado catecumenato, que durava, no mínimo, três anos. Na Quaresma do terceiro ano, as provas se intensificavam, com muito jejum, oração e prática de amor ao próximo.
Apesar do rigor deste processo, alguns depois do batismo não conseguiam ser fiéis aos compromissos assumidos. Cometiam graves delitos contra Deus e contra a comunidade. Desejando ser de novo acolhido entre os irmãos de fé, deviam entrar na “ordem dos penitentes”, um processo bem mais rigoroso do que o catecumenato. Era um processo que, além das provas, se caracterizava pela duração. Às vezes, durava vinte anos. Durante a Quaresma do último ano na “ordem dos penitentes”, as provas também se intensificavam.
Quando o batismo de crianças se generalizou e a penitência pública se transformou em penitência privada, o rigor foi se atenuando, tanto para os catecúmenos, quanto para os penitentes.
Hoje, a Quaresma é, por excelência, um período de “iniciação à vida cristã”, culminando com a celebração do batismo, ou a renovação das promessas batismais na Vigília Pascal. É, ao mesmo tempo, uma oportunidade de “reiniciação”, reorientação da comunidade à sua identidade cristã e eclesial, perdida pelo pecado em maior ou menor grau.
Dentro deste ambiente “catecúmeno-penitencial”, os cristãos, os católicos de modo especial, são convidados a rejuvenescer e a reavivar a própria fé, refletindo sobre a graça batismal, ou a retornar à vida de fé, se por infelicidade tenham dela se afastado.
A Quaresma, portanto, tem como objetivo levar os fiéis a se despojarem do “homem velho” que se corrompe ao sabor das paixões enganadoras; e a se revestirem do “homem novo”, criado à imagem de Deus, na verdadeira justiça e santidade (Ef 4,17-24).
O Batismo, a Penitência, a Eucaristia e todas as práticas próprias da Quaresma querem expressar e alimentar o processo de “iniciação” ou “reiniciação” à vida cristã.
Seria interessante se em nossas paróquias esta compreensão de Quaresma fosse realmente celebrada. Ouso sugerir um roteiro.
Com certeza, este roteiro não poderá ser realizado por todos os paroquianos. Mas, se 10 por cento o puserem em prática, a Paróquia inteira vai perceber a Quaresma com outros olhos, de forma nova. Neste caso, é preciso ousar. Santa Quaresma para todos!