Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 09/01/2019 às 14:38:41

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Creio que as lições de mais duas histórias, como na semana passada, poderão nos lançar luzes sobre as situações que haveremos de vivenciar no novo ano que ainda estamos iniciando.
         A primeira história narra o seguinte episódio: “Um grupo de jovens estava visitando uma determinada comunidade de periferia. Enquanto aguardavam o ônibus que viria buscá-los para o retorno às suas casas, um dos jovens percebeu que um menino, com cerca de oito anos, vinha caminhando pela estrada. Em seus ombros trazia outro menino menor, uma criança de uns três anos. Ao se aproximar, o jovem percebeu que o rosto do menino mais velho transparecia certo cansaço. Para dar um alento e calor humano ao pobre menino, o jovem perguntou em tom carinhoso. 
         Olá, está muito pesado?
         E ele, com uma expressão amorosa no rosto, disse com força e decisão: Não pesa, é meu irmão”.
         Durante o novo ano, com certeza vamos nos encontrar em circunstâncias que nos exigirão pôr sobre os ombros, certos irmãos com peso proporcionalmente superior às nossas forças. Porém, se nosso coração estiver cheio de amor, a exemplo daquele menino, não sentiremos o peso. O jugo e o peso do amor serão sempre leves e suaves. Foi assim que Cristo prometeu. “Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” Mt 11,29-30).
         A segunda história tem o seguinte enredo: “Certo professor estava estudando os usos e costumes de uma tribo africana. Um dia, ao terminar uma tarefa, propôs uma brincadeira às crianças da região. Colocou um cesto cheio de doces debaixo de uma árvore e propôs uma corrida. Aquele que chegasse primeiro ficaria com o cesto. As crianças se alinharam prontas para correr e, quando estavam prontas, ele disse: Já.
         Todas se deram as mãos e correram juntas até a árvore, pegaram o cesto juntas e comemoraram juntas. O professor olhou curioso para aquela situação. Uma das crianças olhou para ele e disse: “Sou quem sou porque somos todos nós! Como uma de nós poderia ser feliz, se todas as outras ficassem tristes?
         Uma pessoa deve ter consciência de que ela é afetada, quando um semelhante seu é afetado. Ela deve saber que nenhuma pessoa é uma ilha, que ela precisa dos outros para ser ela mesma”.
         Esta história, sem dúvida, é uma versão inculturada do ensinamento bíblico. De fato, São Paulo, nos ensina com todas as letras: “Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas” (Rm 12,10). Portanto, a única competição possível entre cristãos é a competição do amor. Infelizmente não é assim que acontece.  O próprio São Paulo, constata e severamente admoesta os gálatas: “Sim, irmãos, fostes chamados para a liberdade. Porém, não façais da liberdade um pretexto para servirdes à carn e. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros, pelo amor. Pois toda a lei se resume neste único mandamento: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Mas se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não serdes consumidos uns pelos outros!” (Gl 5,13-15).
         O primeiro sinal da falta de amor é a indiferença. Muito próprio, por isso, o poema-oração cantado por Mercedes Sosa.
         Eu só peço a Deus
         Que a dor não me seja indiferente
         Que a morte não me encontre um dia
         Solitário, sem ter feito o que eu devia
         Eu só peço a Deus
         Que a injustiça não me seja indiferente
         Pois não posso dar a outra face
         Se já fui machucado brutalmente
         Eu só peço a Deus 
         Que a guerra não me seja indiferente
         É um monstro grande e pisa forte
         Toda pobre inocência dessa gente
         Eu só peço a Deus
         Que a mentira não me seja indiferente
         Se um só traidor tem mais poder que um povo
         Que este povo não se esqueça facilmente
         Eu só peço a Deus
         Que o futuro não me seja indiferente
         Sem ter que fugir desenganado
         Pra viver uma cultura diferente


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