Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 22/06/2018 às 07:16:53

Copa do Mundo

Até o próximo dia 15 de julho estaremos em clima de Copa do Mundo. Idealizada pela FIFA em 1904, a Copa do Mundo só foi definitivamente criada em 1928, pelo francês Jules Rimet, após a reconstrução da Europa, destruída pela Primeira Guerra Mundial, ocorrida de 1914 a 1918. Prevista para acontecer de quatro em quatro anos, não foi realizada em 1942 nem em 1946 por causa da Segunda Guerra Mundial, deflagrada em 1939 e encerrada em 1945.

         O Brasil é o único país que, até o momento, participou de todas as edições da Copa do Mundo e já foi cinco vezes campeão. Desde que o treinador Tite assumiu a seleção e começou a ganhar, estamos torcendo para mais uma vez conquistar o título.

         O futebol é um dos esportes mais populares em todo o mundo. A Copa é, por isso, um evento que possibilita o cultivo e o crescimento de grandes valores como a paz, a fraternidade, a solidariedade, a honestidade e a hospitalidade. Mas, também apresenta alguns riscos e perigos, especialmente no nível da prostituição, das drogas e dos ataques terroristas, como o que aconteceu na Alemanha em 1972, durante as Olimpíadas de Munique.

         Neste contexto é que deve ser colocada as mensagens do Papa Francisco para a Copa de 2014, aqui no Brasil e para a Copa que está acontecendo nestes dias na Rússia.

Na oportunidade da Copa do Mundo no Brasil, o Papa escreveu: “A minha esperança é que, além de festa do esporte, esta Copa do Mundo possa tornar-se a festa da solidariedade entre os povos. Isso supõe, porém, que as competições futebolísticas sejam consideradas por aquilo que no fundo são: um jogo e, ao mesmo tempo, uma ocasião de diálogo, de compreensão e de enriquecimento humano recíproco.(...). O futebol pode e deve ser uma escola para a construção de uma “cultura do encontro”, que permita a paz e a harmonia entre os povos. (...).A última lição do esporte proveitosa para a paz é a honra devida entre os competidores. O segredo da vitória, no campo, mas também na vida, está em saber respeitar o companheiro do meu time, mas também o meu adversário. Ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida”.

         Para a atual Copa do Mundo na Rússia, o Papa não escreveu a propósito uma mensagem, mas aproveitou o discurso que, na véspera, fez aos fiéis, reunidos na Praça de São Pedro, para a audiência de todas as quartas feiras.

Assim se expressou o Papa: “Amanhã começa a Copa do Mundo de Futebol na Rússia. Desejo enviar a minha cordial saudação aos jogadores e aos organizadores, bem como aos que seguirão pelos meios de comunicação social este evento que ultrapassa todas as fronteiras. Possa essa importante manifestação esportiva se tornar uma ocasião de encontro, de diálogo e de fraternidade entre as culturas e religiões diversas, favorecendo a solidariedade e a paz entre as nações”.

         Além dos lembrados acima, outro sério perigo é fazer deste tempo de Copa do Mundo um tempo de anestesia social e desmobilização cidadã. Apenas um exemplo. Enquanto a Suiça empata conosco no futebol, ganha de goleada em muitos outros itens. Num universo de 180 países menos corruptos, a Suiça ocupa o 3º lugar e o Brasil 96º. Ainda num universo de 180 países, no item liberdade econômica, ou seja, a facilidade que as empresas têm de fazer negócios, a Suiça se posiciona em 4º lugar, o Brasil, porém está 153º. Em relação ao Produto Interno Bruto, em 2015 a posição do Brasil era de 13.670 dólares per capita, a da Suiça era de 80.685 dólares per capita. Num universo de 118 países, a Suiça ocupa o 7º lugar no índice de escolaridade de sua população, enquanto o Brasil o 88º. Estamos bem embaixo. Na Suiça, a taxa de desemprego é de 2,7%, no Brasil é de 13%.

         Com certeza, esta diferença não é fruto do acaso, nem da sorte de uma e do azar do outro. Se a Suiça se igualou a nós no futebol, por que não poderemos nós nos igualar a ela nos itens acima citados? Tudo depende da seriedade, da honestidade e da justiça na gestão do bem comum. A Copa do Mundo, além do lazer e outros benefícios, deve ser também uma ocasião para desperta nossa consciência e aguçar nossa cidadania. O futebol é um jogo em equipe. Ninguém vence sozinho. Como afirma o Papa, “não é só no futebol que ser “fominha” constitui um obstáculo para o bom resultado do time; pois, quando somos “fominhas” na vida, ignorando as pessoas que nos rodeiam, toda a sociedade fica prejudicada”.


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