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Postado dia 22/02/2018 às 13:03:10

Convite ao jejum - Por Dom Manoel João Francisco

Além do jejum prescrito para a Quarta Feira de Cinzas e Sexta Feira Santa, neste ano, os católicos do mundo inteiro, por solicitação do Papa Francisco, na próxima sexta feira, farão jejum, suplicando pela paz na República Democrática do Congo, no Sudão do Sul e no mundo inteiro. Nós, aqui no Brasil, vamos acrescentar, às intenções do Papa, a superação da violência proposta pela Campanha da Fraternidade deste ano.

         Jejum é uma prática muito antiga como expressão de conversão do coração. A Palavra de Deus, contida no Livro Sagrado que chamamos Bíblia, em diversas passagens, chama a atenção neste sentido. À reclamação do povo porque não era atendido em seus pedidos apesar dos jejuns praticados, o profeta Isaías, em nome de Deus responde: “É porque, no dia do vosso jejum, tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios, brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com este espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor? Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o e não desprezes a tua carne. Então brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há  de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro  e ele dirá: Eis-me aqui” (Is 58,3-9).

         Jejum não é, portanto, apenas a privação de alimentos. Jejuar significa, de maneira geral, humilhar-se, ou seja, assumir o comportamento próprio de alguém que, consciente de sua falta, demonstra arrependimento. Davi, com jejum, implorou de Deus o perdão se seu pecado de adultério (2Sam 12,15-16.22). Neemias, ao ter notícia das dificuldades do povo que permaneceu em Jerusalém, por ocasião do cativeiro da Babilônia, em prantos iniciou um jejum para pedir perdão dos pecados cometidos por Israel (Ne 1,4ss).

O jejum é o jeito de dizer que somente Deus pode nos ajudar. A atitude de Esdra é muito clara neste sentido: “Ali junto ao rio Aava proclamei um jejum, pois queríamos nos humilhar diante de nosso Deus, a fim de obter a graça de uma feliz viagem para nós, nossas famílias e para todos os nossos haveres. (...). Jejuamos, pois, e rezamos ao nosso Deus nessa intenção; e ele nos atendeu” (Esd 8,21-23).

         Os cristãos, desde o início da Igreja, sempre observaram o jejum, atentos para não caírem em simples prática exterior. Aliás, ao praticar jejum, segundo o ensinamento de Jesus, o cristão deve ser muito discreto. “Quando jejuardes, não fiqueis de rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para mostrar aos outros que estão jejuando. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os outros não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,16-18). Por isso, a Igreja, ao propor o jejum de alimento, nunca esquece de também propor o jejum de certos gestos e atitudes negativas. Pe. Geraldo Leite, por exemplo, além do jejum de alimento, nas quartas e sextas feiras, até o meio dia, propunha, aos seus paroquianos para cada semana da quaresma, um jejum de ampla repercussão na vida da comunidade. Na primeira semana se fazia o Jejum da Língua para evitar falar futilidades e qualquer tipo de fofocas. Na segunda semana era o Jejum dos Passos para evitar ir a lugares que poderiam levar a um comportamento contrário ao de um bom cristão. Na terceira semana os fiéis eram convidados a fazer o Jejum da Vista para não ver aquilo que atrapalha a caminhada de fé do povo, como por exemplo, novelas de televisão. Na quarta semana, propunha-se o Jejum do Gosto para entrar em comunhão com todos os que sofrem, evitando os alimentos de que mais gostamos, como doces, sorvetes, etc. Na quinta e última semana da Quaresma se fazia o Jejum do Coração para exercitar o desapego daquilo que mais atrapalha nossa convivência com os irmãos.

         Acolhamos pois a proposta do nosso Papa Francisco e façamos jejum de alimento nesta sexta feira da primeira semana da Quaresma sem esquecer de nos abster de tudo o que possa provocar ou alimentar a violência no ambiente em que vivemos. Esta é a condição para que o jejum seja agradável a Deus.


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