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Postado dia 23/11/2017 às 15:08:11

Dia Mundial dos Pobres - Por Dom Manoel

Ao encerrar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco instituiu o “Dia Mundial dos Pobres” a ser celebrado, todos os anos, no 33º Domingo do Tempo Comum.

         O Papa explicou que este “será um dia para ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e a tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta de nossa casa” (Lc 16,19-21).

         Estamos vivendo uma profunda crise em nosso País com conseqüências muito graves para o nosso povo pobre. As políticas sociais, tais como o congelamento dos investimentos em saúde e educação por vinte anos, o desmonte dos direitos trabalhistas e da seguridade social, a venda do patrimônio público, tendo em vista o Estado mínimo, constituem séria ameaça à volta ao mapa da fome, donde tínhamos saído em 2014. Segundo pesquisa do PNDA/IBGE, em 2014, sete milhões de pessoas passavam fome no Brasil. Este número tende a crescer como se pode deduzir da proposta orçamentária para 2018 (PLN 20/2017) entregue ao Congresso Nacional pelo Poder Executivo dia 31 de outubro. Milhões de reais serão retirados de várias políticas públicas, especialmente na área social. Apenas dois exemplos: o programa de inclusão social por meio do Bolsa Família perdeu mais de 3 bilhões de reais, uma redução de 12%. Os recursos da área de Segurança Alimentar e Nutricional caíram de R$ 736,3 milhões em 2017 para R$ 119,4 milhões em 2018, uma redução de 84%. A reforma da Previdência, com a justificativa de déficit previdenciário, contestado pela CPI do Senado e outras instituições ligadas ao governo, está para ser aprovada. Seis milhões e duzentas mil famílias vivem hoje sem moradia, enquanto que o número de imóveis vazios atinge a cifra de sete milhões. Em nosso país seis pessoas têm mais riquezas do que cem milhões. E como se não bastasse, no dia 16/10/2017, o Ministério do Trabalho publicou a Portaria 1129 que elimina as proteções legais contra o trabalho escravo, restringindo-o apenas ao trabalho forçado com o cerceamento de ir e vir. Permite, além disso, a jornada exaustiva e condições degradantes. Uma liminar do Supremo Tribunal Federal suspendeu temporariamente esta “desumana Portaria”. A ameaça, no entanto, permanece.

“As obras concretas são as únicas capazes de contrapor as palavras vazias que com freqüência se encontram em nossa boca” (Papa Francisco). Por isso, inspirado na 1ª Carta de São João, o Papa escolheu para este primeiro “Dia Mundial dos Pobres” o lema: “Não amemos com palavras, mas com obras.

Nossa Igreja católica, há muito, tem orientado que toda ação pastoral deve atender, antes de mais nada, “as exigências da justiça, para não ficar dando como ajuda de caridade aquilo que já se deve em razão da justiça; suprimir as causas e não só os efeitos dos males e organizar os auxílios de forma tal que os que os recebem se libertem progressivamente da dependência externa e se bastem a si mesmos” (AA 8)

A comemoração do “Dia Mundial dos Pobres”, não pode resumir-se a sentimentos superficiais ou simples gestos esporádicos de assistencialismo. Deverá ser uma oportunidade de profunda conscientização e de corajosa tomada de decisão em favor dos prediletos de Deus, os pobres.

A convocação do Santo Padre não pode cair no vazio, e satisfazer-se apenas com orações e distribuição de vestuários e alimentos em um determinado dia. É preciso que este “Dia Mundial dos Pobres” seja acolhido por todos os fiéis católicos e pessoas de boa vontade e “se torne um forte apelo à nossa consciência crente, para ficarmos cada vez mais convictos de que partilhar com os pobres permite-nos compreender o Evangelho na sua verdade mais profunda. Os pobres não são um problema: são um recurso de que se pode lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho” (Papa Francisco).

É preciso que se resgate a coragem e a força dos profetas bíblicos que com todas as letras anunciavam que “aquele que oferece um sacrifício arrancado do dinheiro dos pobres, é como o que degola o filho aos olhos do pai” (Eclo 34,24).


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