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Postado dia 04/09/2017 às 15:25:58

O Brasil e a crise - Por Dom Manoel João Francisco

O Brasil está passando por uma séria crise. Numa carta a seus irmãos bispos, solicitando para que motivem os fiéis na organização do Grito dos Excluídos, Dom Guilherme Werlang, Bispo de Ipameri GO e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora da CNBB, afirma que “os direitos e os avanços democráticos conquistados nas últimas décadas, frutos de mobilizações e lutas, estão ameaçados. O ajuste fiscal, as reformas – trabalhista e da previdência – estão retirando direitos dos trabalhadores para favorecer os interesses do mercado. O próprio sistema democrático está em crise, distante da realidade vivida pela população”.

Diante deste quadro, a Presidência da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) enviou para todas as dioceses uma carta sugerindo um Dia de jejum e oração pelo Brasil, a ser realizado no dia 07 de setembro próximo.

Em sua Assembléia anual, os Bispos do Brasil, reunidos em Aparecida em 2016, autorizaram a publicação de um estudo intitulado “Crises e Superações”. Trata-se de um texto para análise e reflexão. A intenção é apontar para algum horizonte que ilumine a realidade em que vivemos e intuir veredas de superação.

Na opinião dos Bispos a crise que afeta a sociedade brasileira é muito ampla, profunda e diversificada. Pode ser compreendida como crise da cultura e seus valores, como crise econômica, centrada na hegemonia do mercado financeiro, como crise social centrada na erosão dos direitos sociais e como crise política, centrada no enfraquecimento das instituições.

Crise da cultura: Vivemos numa sociedade em que tudo parece ser provisório e descartável. Os valores deixaram de ser permanentes. São assumidos, apenas quando proporcionam satisfação momentânea e hedonística. O que vale são as opiniões individuais e não as razões universais. Reivindica-se, por isso, uma sociedade onde tudo é permitido, com conseqüências muito nefastas e desastrosas, tais como a corrupção, verdadeiro câncer que precisa a todo custo ser combatido. Neste sentido temos um convite forte do Papa Francisco nos motivando com estas palavras: “Não tenham medo de lutar contra a corrupção e não se deixem seduzir por ela. Vocês podem redescobrir a criatividade e a força para serem protagonistas de uma cultura de aliança e gerar novos paradigmas que venham pautara vida do Brasil (Carta aos Jovens, 03/07/2017).

Crise econômica: Nas últimas décadas, o Brasil adotou uma política econômica baseada no consumismo. O governo combateu a miséria, mas não a desigualdade social. Teve medo de mexer nas estruturas arcaicas do país e desagradar os donos do poder. Movido pelo financiamento fácil o povo teve acesso a bens pessoais: TV a cores, fogão, geladeira, microondas, celular, computador, carro, sem, no entanto, usufruir de bens sociais: educação, moradia, transporte, saúde, saneamento., acesso à terra. Segundo Papa Francisco, não é tão fácil propor uma saída. No entanto, tudo indica que o primeiro passo a ser dado é pôr a economia a serviço das pessoas e dos povos.

Crise social: Embora não se tenha conseguido uma sociedade sem desigualdade, não se pode negar que, nos últimos anos, a sensação era de que se vivia numa sociedade menos excludente. No entanto, no atual momento o Brasil encontra-se em uma situação crítica. “Reforça-se no país a reprodução de relações sociais autoritárias”. Os direitos sociais conquistados são anulados ou desrespeitados Neste contexto, é preciso que a sociedade se articule e preserve, ao menos, o direito à resistência e à livre manifestação em todas as suas formas.

Crise política: Depois de uma certa estabilidade política, assegurada pela promulgação da chamada Constituição Cidadã de 1988, a partir das eleições de 2014, o Brasil vivencia uma situação de grande tensão política. As notícias diárias sobre corrupção, praticada por políticos, estarrece o povo e provoca um grande mal estar social. O mal estar aumenta diante de medidas tomadas pelo governo, sem que o povo seja consultado. Num prazo relativamente curto, assistiu-se ao congelamento dos gastos públicos, por vinte anos, à promulgação da reforma do ensino médio e da reforma trabalhista. Mais desgraças estão sendo anunciadas, tais como a reforma da previdência, a reforma política, e a privatização de empresas estatais, como a Eletrobras. Profundamente antipopulares estas reformas e programas são agudizados pela repressão e criminalização das organizações e movimentos sociais.

Na opinião dos bispos brasileiros, “a atual crise da democracia brasileira somente será superada com um amplo entendimento político – a envolver o governo, a oposição, os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo – com vistas a atender os interesses maiores e não interesses mesquinhos pautados pelo imediatismo e a insana disputa pelo poder”.

Dom Manoel João Francisco

Bispo Diocesano


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