Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 29/06/2017 às 08:22:32

São Pedro

Neste último final de semana do mês de junho, no Brasil inteiro, o povo estará comemorando São Pedro. Como já escrevi, num outro artigo, infelizmente, a motivação religiosa das festas juninas foi quase que totalmente descartada. Realça-se os acessórios e esquece-se do principal, ou seja, o exemplo de vida dado pelo santo comemorado.

         São Pedro foi apóstolo de Jesus, escolhido para ser o líder do grupo dos Doze Apóstolos. Seu nome era Simão, mas Jesus passou a chamá-lo de Pedro, na língua hebraica: Cefas que quer dizer pedra, tanto no sentido de cova arredondada, gruta rochosa que forma uma espécie de abrigo natural para defender e proteger os pastores e suas ovelhas, quanto no sentido de rocha sólida que serve de fundamento para os edifícios.

         Jesus dá a Simão o cognome de Cefas, ou seja, Pedro porque certamente viu que ele era dotado de solidez e profundidade de caráter. Era intenção de Jesus que Pedro fosse representação e manifestação visível de sua pessoa, a pedra angular, rejeitada pelos construtores (Sl 118,22).

         Alguns teólogos acham que, chamando Simão de Cefas, Pedro, Jesus quis dizer que um novo homem estava aparecendo no pescador da Galileia. Pedro seria a rocha sobre a qual Cristo haveria de construir a Igreja. Segundo estes teólogos, na intenção de Jesus, Pedro não seria uma pedra qualquer no edifício da Igreja, mas o fundamento rochoso sobre o qual toda a Igreja se sustentaria.

         Nesta compreensão, Pedro personifica a liderança e a capacidade de falar em nome do grupo dos Doze. De fato, em várias passagens do Evangelho, Pedro aparece extremamente ativo e cheio de iniciativas.

         A outra possibilidade de se entender a missão de Pedro é considerar a palavra Cefas, como rochedo escavado, como uma gruta escavada na rocha que serve de refúgio, defesa e moradia. Pedro, ao seguir Jesus, torna-se esta gruta. Sua missão será a de ser abrigo, repouso, moradia, defesa, proteção de seus irmãos na fé. 

         Além de olhar para São Pedro com Pedra, a devoção popular também vê São Pedro como porteiro do céu. Em sua imagem ele aparece sempre com duas chaves na mão. É uma relação direta com o capítulo 16 do Evangelho de Mateus em que se lê: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado no céus” (Mt 16,19).

Nesta passagem Cristo faz de Pedro o seu substituto, ou seja, o mordomo a quem o Mestre entrega todas as chaves. As medidas que tomar na terra serão ratificadas no céu, porque de agora em diante a sua autoridade é a autoridade do próprio Cristo. Nesta passagem do evangelho Jesus confere a Pedro muito mais do que um primado de honra sobre os outros apóstolos, investe-o de uma autoridade efetiva sobre toda a Igreja.

 Foi Pedro quem propôs a eleição de Matias para suceder Judas. Foi Pedro quem, a despeito da oposição dos primeiros fiéis de Jerusalém, decidiu levar o evangelho aos povos pagãos. O grande apóstolo Paulo, para justificar sua ação aos que dele duvidavam por causa de seu passado de perseguidor, faz-lhes saber que, primeiramente, tinha subido a Jerusalém para conhecer Cefas, ou seja Pedro, permanecendo quinze dias com ele. Foi também Pedro quem presidiu o Concílio de Jerusalém, onde se permitiu que os povos pagãos poderiam se tornar cristãos, sem precisar se sujeitar às leis do judaísmo.

Pedro viveu os últimos anos de sua vida em Roma. Foi morto crucificado de cabeça para baixo, porque se dizia indigno de morrer como o Mestre morrera. Seus sucessores continuam sua missão e ministério. Eles são a referência de unidade dos católicos. Hoje, o sucessor de Pedro chama-se Francisco. A ele devemos nossa reverência e respeito. No momento, além do Papa em exercício, temos também um Papa emérito. Não podemos ceder a tentação, demasiado fácil, de contrapor um Papa ao outro, para depositar nossa confiança naquele cujos atos estejam mais de acordo com nossas tendências pessoais. Não podemos ser daqueles que lamentam o Papa de ontem ou esperam o de amanhã.

Como católicos conscientes e correponsáveis pela nossa Igreja somos convidados em primeiro lugar a rezar pelo Papa. Foi assim que fez a primeira comunidade cristã. Depois da morte de Tiago, Herodes fez meter Pedro no cárcere. Sendo milagrosamente libertado por um anjo, Pedro dirige-se à casa de Maria, a mãe de João. Ao chegar, encontrou a casa cheia de cristãos que, sem descanso, oravam a Deus por ele, desde o primeiro dia da prisão (At 12,1-12).

O respeito pelo Papa remonta, portanto, aos primeiros tempos da Igreja. Devemos mantê-lo cuidadosamente.


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