O símbolo da luz

A Palavra de Deus, na liturgia do próximo domingo, quinto do Tempo Comum, realça bastante o tema e o símbolo da luz. Na primeira leitura, o profeta Isaías afirma que nascerá nas trevas e brilhará como a aurora a luz de quem reparte o pão com o faminto e acolhe em sua casa, de coração aberto, o pobre, o peregrino, o indigente e o necessitado. Ainda segundo o profeta, a vida desta pessoa será tão luminosa quanto o meio-dia. No salmo responsorial (Sl 111/112) o salmista proclama que para o homem justo, caridoso e prestativo, Deus brilha como a luz. No evangelho, Jesus diz que nós, seus seguidores, somos a luz do mundo. Por isso, através de nossas boas obras, precisamos iluminar e dissipar as trevas do mundo como uma lâmpada ilumina os que estão em uma sala escura.

A luz é um símbolo forte em todas as culturas e religiões, conseqüência da contemplação da natureza. No Egito, na Pérsia e em todas as nações, Deus é comparado e relacionado com a luz. Tanto no Gênesis, quanto nos livros sagrados da Índia e da China, a luz aparece como primeiro elemento para por ordem no caos primordial, caracterizado como escuridão (Gn 1,1-3). Em muitos mitos da Ásia, a luz é evocada como o calor que dá a vida. Segundo o testemunho de um monge tibetano, no início dos tempos as pessoas se multiplicavam por uma luz que emanava do corpo do homem e penetrava no seio da mulher, fecundando-a. Transportada para o mundo espiritual, esta imagem fundamenta nossa fé na luz da graça que fecunda o coração do ser humano e o transforma em filho de Deus. No início da Igreja, o batismo era conhecido como iluminação e as pessoas batizadas como iluminadas.

O Corão declara: “Alá é a luz dos céus e da terra. O exemplo de sua luz é como o de um nicho em que há uma candeia; a candeia está num recipiente e o recipiente é como uma estrela brilhante (...). É luz sobre luz! Alá conduz a sua luz a quem lhe apraz”.

Segundo os textos bíblicos, Deus mesmo é a luz. “O próprio Javé será para você uma luz permanente” (Is 60,19). “Javé é minha luz e minha salvação” (Sl 27,1). Ainda segundo os textos bíblicos, a lei de Deus é luz do caminho dos homens. “Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho” (Sl 119,105). É vida, salvação e felicidade, entendidas como dons de Deus. “Senhor, em ti está a fonte da vida, e em tua luz nós vemos a luz” (Sl 36,10). “Uma luz se levanta para o justo, e existe alegria para os retos de coração” (Sl 97,11). “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e uma luz brilhou para os habitavam uma terra tenebrosa” (Is 9,1).

O cristianismo continua com as mesmas categorias simbólicas. Jesus é a luz do mundo (Jo 8,12; 9,5). Os cristãos devem ser reflexos da luz de Cristo (2Cor 4,6), agindo no amor. Se fizerem o contrário, as trevas os cobrirão (1Jo 2,8-11).

A propósito da passagem evangélica prevista para o próximo domingo, São João Crisóstomo faz o seguinte comentário: Cristo não fala que o cristão é luz de um povo apenas, ou somente de vinte cidades, mas diz: “vós sois a luz do mundo”, ou seja, de toda a terra, e luz inteligível, mais esplendente que os raios do sol. (...). Ainda segundo São João Crisóstomo, nesta passagem do Evangelho Jesus estimula os seus discípulos a vigiar sobre a própria conduta, advertindo-os para estarem sempre atentos em relação ao que fazem, pois estão expostos aos olhos de todos os homens e combatem em uma arena elevada no centro da terra.

Os padres dehonianos de Lisboa (Portugal) comentando o mesmo texto afirmam que “ser cristão é também ser uma luz acesa na noite do mundo, apontando os caminhos da vida, da liberdade, do amor, da fraternidade...” A pergunta que fica é: “Eu sou essa luz que aponta no sentido das coisas importantes, impedindo que a vida dos meus irmãos se gaste em frivolidades e bagatelas? Para os que vivem no sofrimento, na dúvida, no erro, para os que vivem de olhos no chão, eu sou a luz que aponta para o mais além e para a realidade libertadora do Reino?”.