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Postado dia 22/12/2016 às 10:01:57

Natal - Por Dom Manoel João Francisco

Num dia desses, indo na direção de uma de nossas paróquias, com o rádio do carro ligado, escutei a seguinte história:

         Num país do hemisfério Norte, numa família de classe média, o pai era agnóstico, a mãe e os três filhos, religiosos, participantes ativos na comunidade. Na noite de Natal, caia forte nevasca. A esposa e os filhos preparam-se para ir à igreja participar da celebração. Ao saírem de casa, despedem-se do pai, mas, como de costume, perguntam se não os ia acompanhar. Ele, o pai, educadamente agradece o convite, mas permanece em casa, esperando-os para a ceia. Era agnóstico. Até aquele momento, não encontrara motivos para crer em Deus, menos ainda, num Deus que assumira a natureza humana a fim de salvar a humanidade. Por coerência, recusou o convite, embora amasse demais sua esposa e seu três filhos. Não acreditava, mas não impedia seus familiares de acreditar. No fundo sentia uma inexplicável satisfação de ver esposa e filhos tão fiéis na prática religiosa.

         Para passar o tempo, tomou o jornal, sentou-se e começou a ler próximo da lareira. De repente sentiu umas batidas no vidro da janela. Pensou que alguém estava jogando bolas de neve. As batidas, no entanto, passaram a ser cada vez mais fortes e freqüentes. Curioso levantou-se para averiguar o que acontecia. Encontrou vários pássaros caídos na neve, correndo o risco de morrerem de frio. Os pássaros, atingidos pela neve, fugiram da árvore em que estavam dormindo e procuraram um abrigo mais seguro. Atraídos pela luz, foram na direção da casa, esbarrando na vidraça. O senhor compadeceu-se das pobres aves e pensou: vou salvá-las. Vou pô-las no galpão, onde meus filhos já possuem alguns pássaros. Abriu a porta do galpão, acendeu a luz na esperança que, atraídos pela luminosidade, os pássaros fossem naquela direção. Mas nada aconteceu. Tentou então pegá-los, mas os pássaros fugiam. Diante do insucesso procurou agrupá-los e incitá-los a irem para o galpão. Impossível! Os pássaros dispersaram-se em todas as direções, menos na direção do galpão. Vendo suas tentativas frustradas, o homem pensou: “Que pena! Quero salvá-los, mas eles não me entendem. Acham que sou um monstro que apareci para matá-los. Se eu fosse um deles e falasse sua linguagem poderiam me entender e eu os salvaria. Neste instante, o sino da igreja tocou para indicar o início da celebração. O homem parou e estremeceu. Um pensamento lhe veio à mente. Agora entendo porque Cristo nasceu e se tornou um ser humano. Se ele viesse nos salvar com seu poder e majestade divina, não o entenderíamos. Iríamos fugir como estes pássaros estão fugindo de mim. Cristo se fez homem porque me ama e quer me salvar. Ali mesmo, na neve, ajoelhou-se e pediu perdão de sua descrença. Correu em seguida para a igreja a fim de participar, com a esposa e filhos, da celebração de Natal.

         Gostei desta história. Por isso quis recontá-la e passá-la adiante. Ela ilustra de forma plástica e em cores muito vivas o mistério da encarnação de Cristo e de nossa salvação. De fato, como lembra São Paulo, na carta aos Filipenses, “Cristo, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojando-se, assumiu a forma de escravo, tornando-se semelhante ao ser humano” (Fp 2,6-7). Esta é a nossa fé. Nós a rezamos no II Prefácio de Natal que assim se expressa: “Gerado antes dos tempos, entrou na história da humanidade para erguer o mundo decaído. Restaurando a integridade do universo, introduziu no Reino dos Céus o homem redimido”. A mesma verdade é expressa de outro modo no III Prefácio do Natal: “No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos”.

         Pena que, Cristo tendo feito tudo isso por nós, muitos não o acolheram! Mas não vamos ficar nos lamentando! A todos que o acolheram, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Foram gerados, não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (Jo1,11-12).

         Feliz e Santo Natal, juntamente com um abraço muito afetuoso e a certeza de minhas orações por todos e todas vocês, meus queridos irmãos e irmãs na fé e em humanidade.

 

 


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