No clima de Natal que estamos vivendo, o comércio dá grande destaque à figura do Papai Noel. Nós, no ambiente de Igreja, como não poderia deixar de ser, realçamos a pessoa de Jesus, o motivo principal da festa e a pessoa de Maria, sua Mãe que “tendo dado à luz o seu filho primogênito, o enfaixou em panos e o deitou numa manjedoura” (Lc 2,7).
Fica na sombra um personagem muito simpático e de suma importância na história de nossa salvação. Trata-se de São José, esposo de Maria. Nesta reflexão, vamos nos deter no que ele pode significar para nós.
Comecemos, colocando-nos em seu lugar. Era jovem e apaixonado por sua noiva, também jovem e bela. Segundo as leis da época, enquanto noivos, já podiam ter envolvimento sexual, mesmo sem coabitarem. Por isso, se Maria aparecesse grávida, ninguém iria estranhar.
Certo dia, Maria, a noiva, com licença de José, o noivo, vai passar uns tempos com a prima Isabel, num outro lugarejo, mais de 120 quilômetros, distante de Nazaré.
Após três meses, Maria retorna com sinais de uma gravidez já bem adiantada. José, sabendo que a criança não era sua, vai pedir explicação à noiva. Esta, por sua vez, nada pode lhe dizer, a não ser que um anjo lhe aparecera dizendo que haveria de conceber e dar à luz um filho que seria chamado Filho do Altíssimo, sentaria no trono de Davi, reinaria para sempre sobre a descendência de Jacó, e seu reino não teria fim (Lc 1,31-33). Era tudo que podia dizer, pois era somente isso que sabia.
Não satisfeito com a explicação, mas, sem deixar de amar sua noiva, José estava em grande dilema. É claro que ele podia denunciá-la de adultério. Se o fizesse veria sua amada ser apedrejada até a morte. Não podia duvidar de sua noiva. Ela sempre tinha sido fiel e sincera. E, se a historia que contara, apesar de estranha, fosse verdadeira! Ele iria carregar para sempre a culpa de acusar uma inocente. Em meio a tantas incertezas, decide fugir para um lugar distante e estranho. Lá passaria seus dias no anonimato, exercendo sua profissão de carpinteiro e curtindo uma grande dúvida. Ao menos, não correria o risco de acusar uma possível inocente. Assim a criança poderia nascer e talvez tornar-se alguém importante. Decisão tomada, partida marcada! Na noite, antes de partir, enquanto dormia, um anjo lhe aparece e lhe diz: “José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar seu povo dos seus pecados” (Mt 1,20-21). Não havia mais dúvida. Tudo se esclarecera. “Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa” (Mt 1,24).
Diante desta passagem da vida de São José, o Papa, São João Paulo II comenta: “Nas palavras da ‘anunciação’ noturna, José escuta não apenas a verdade divina acerca da inefável vocação da sua esposa, mas ouve novamente também a verdade acerca da própria vocação. Este homem ‘justo’, que, segundo o espírito das mais nobres tradições do povo eleito, amava a Virgem de Nazaré e a ela se encontrava ligado por amor esponsal, é novamente chamado por Deus para este amor” (RC 19).
O Papa Bento XVI, quando ainda era cardeal, diante de uma imagem de São José dormindo dentro de uma tenda, com um anjo de pé, ao seu lado, fez a seguinte reflexão: “José dorme, é verdade, mas está simultaneamente disposto a ouvir a voz do anjo. Parece depreender-se da cena o que o Cântico dos Cânticos tinha proclamado: eu dormia, mas o meu coração estava vigilante (Cânt. 5,2). (...). Esse José que dorme, mas que ao mesmo tempo está preparado para ouvir o que ecoe no seu íntimo e desde o alto, é o homem em que se unem o recolhimento íntimo e a prontidão”.
O Papa Francisco tem em seu quarto uma imagem de São José dormindo. Numa de suas audiências às quartas feiras, fez esta observação: “Também São José teve a tentação de deixar Maria, quando descobriu que ela estava grávida; mas interveio o anjo do Senhor, que lhe revelou o desígnio de Deus e a sua missão de pai adotivo; e José, homem justo, ‘recebeu em casa sua esposa’ (Mt 1,24), tornando-se pai da família de Nazaré”.
Encerremos esta reflexão com três estrofes da bonita música “Meu Bom José” de autoria do francês Georges Moustaki na versão de Nara Leão.
Olha o que foi meu bom José
Se apaixonar pela donzela
Dentre todas as mais bela
De toda a sua Galileia.
Casar com Débora ou com Sara
Meu bom José, você podia
E nada disso acontecia
Mas você foi amar Maria
Me lembro às vezes de você
Meu bom José, meu pobre amigo
Que dessa vida só queria
Ser feliz com sua Maria.