Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 28/09/2016 às 15:10:07

Eleições 2016

Convicta de que nem todo bom cidadão é católico, mas que todo católico tem de ser bom cidadão, a Igreja católica sempre se preocupou em dar aos seus fiéis orientações práticas sobre o correto exercício da cidadania. Por isso, nos anos de eleições, a CNBB e as Dioceses lançam cartilhas, folders e mensagens para que os católicos não fiquem em dúvida a respeito de como votar e em quem votar. Neste ano, tais orientações são ainda mais importantes, pois como lembra a CNBB, “as eleições municipais têm uma atração e uma força próprias pela proximidade dos candidatos com os eleitores. Se, por um lado, isso desperta mais interesse e facilita as relações, por outro, pode levar a práticas condenáveis como a compra e venda de votos, a divisão de famílias e das comunidades. Na política, é fundamental respeitar as diferenças e não fazer delas motivo para inimizades ou animosidade que desemboquem em violência de qualquer ordem”.

         Em nossa Diocese de Cornélio Procópio, o grupo Ubuntu, formado por pessoas da Igreja católica e da Assembleia de Deus, militantes em vários partidos, publicou um folder muito esclarecedor e o distribuiu. Desta forma muita gente pode ter uma orientação simples que convocava à prática de uma política limpa e eficaz. Nesta semana que antecede as eleições creio ser interessante repetir o conteúdo daquele folder. Antes, porém, esclareço que a palavra Ubuntu que identifica o grupo é uma palavra que deriva de uma filosofia africana e significa: “Sou quem sou porque somos todos nós”. Em outras palavras, Ubuntu representa compaixão, empatia, partilha. Essa filosofia entende que o mundo não é uma ilha, mas que as pessoas necessitam umas das outras para se realizarem e que não é possível ser feliz integralmente, enquanto houver um semelhante sofrendo.

         O folder começa citando um pensamento de Martin Luther King - “O que me assusta não é o barulho dos maus, mas o silêncio dos bons” – fala, em seguida, da ação do cristão na política. Em seguida faz algumas perguntas para as quais, quase sempre, não há interesse em respondê-las: Por que tantas pessoas morrem de fome com tanta comida no mundo? Por que muitos penam na miséria, enquanto poucos vivem com grandes fortunas? Por que todos os dias aumenta o número de viciados, de pessoas sem família, de dor sem remédios, de doentes sem leitos, de filhos sem pais, de pais sem filhos e de vidas ceifadas por violências inomináveis? Como resposta, muitos culpam a Deus, outros o diabo, outros a sorte, outros ainda ficam sem opinião. Diante destas perguntas, o cristão não pode ficar indiferente. Precisa sentir-se responsável e assumir a parcela de culpa que lhe cabe. O mundo começa a ser diferente, no momento em que cada um de nós, passa a exercer de forma consciente a sua cidadania, inclusive, quando, sabedor de que o voto não tem preço, mas conseqüência, escolhe o seu representante na câmara dos vereadores e o prefeito ou prefeita que vai administrar o município onde mora. Muitas vezes, queremos e até exigimos que a mudança comece pelos outros. Nós mesmos, porém, nos acomodamos, cruzamos os braços, com a desculpa de que sempre foi assim e que nada vai mudar. Pior, pode acontecer que nos deixemos corromper com a troca de nosso voto por pequenos favores ou pequenas quantias em dinheiro. Justificamos esse comportamento, achando que, diante das grandes corrupções, estes pequenos favores não têm conseqüência.  Esquecemos que, segundo o Evangelho, “quem não for fiel nas pequenas coisas, também não o será nas grandes”.

         O folder também chama a atenção para a vocação do cristão, isto é, ser seguidor de Cristo, ser santo como o Cristo, honesto como o Cristo, justo como o Cristo. Por isso, assim como Cristo pode acalmar uma grande tempestade, os cristãos, fortalecidos pela graça, também podem acalmar a tempestade que se abate sobre o nosso país. Em seguida faz algumas chamadas: cristão, você é o sal da terra, você é a luz do mundo! Você pode dar um novo sabor à vida, você pode iluminar as trevas da corrupção e do engano. É hora de fazer acontecer neste mundo o Reino de Deus. É hora de viver como cristão nas prefeituras, nas câmaras de vereadores, nos conselhos de direito, nos movimentos sociais e em tantos outros espaços públicos. É hora de participar da política que vai além dos interesses pessoais, ou de grupos. Participar da política que tem como objetivo o bem comum, ou seja, que se deixa guiar pela vontade e pelo amor de Deus.


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