Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 31/08/2016 às 15:21:18

Mês da Bíblia

No mês de setembro, aqui no Brasil, nós católicos dedicamos atenção especial à Bíblia. Graças a Deus já está longe o tempo em que a leitura da Bíblia era praticamente proibida aos fiéis. Hoje se percebe que a Bíblia está muito presente em muitas atividades da Igreja e do povo: nas orações, na catequese, em treinamento de lideranças, em retiros, em discursos políticos, em mutirões, nas lutas pela terra e pela água, em clube de mães, em organizações de bairros, em gincanas e em tantos outros momentos e acontecimentos. Foi o Concílio Vaticano II que não só permitiu, mas ordenou que a palavra de Deus fosse colocada ao alcance de todos os fiéis.

Exorta igualmente o Santo Sínodo a todos os fiéis cristãos, principalmente aos religiosos, com veemência e de modo peculiar a que, pela freqüente leitura das divinas Escrituras, aprendam “a eminente ciência de Jesus Cristo” (Fl 3,8). “Porquanto ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Acheguem-se, pois, de boa mente ao próprio texto sagrado, quer pela Sagrada Liturgia repleta da palavra de Deus, quer pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados e outros meios que, com a aprovação e empenho dos Pastores da Igreja, hoje em dia louvavelmente se difundem por toda parte” (DV 25).

Se de um lado, o que foi afirmado acima é verdade, de outro lado é também verdade que um grande número de cristãos ainda permanece distante da Bíblia e se enche de questionamentos e de dúvidas com leituras de livros como O Código Da Vinci, qualificado de “romance” pelo próprio autor.

Um e outro fenômeno são, com certeza, sinais de que as pessoas continuam precisando e desejando ouvir a palavra de Deus como fonte de vida e oportunidade de encontro com o Senhor.

Em outubro de 2008 aconteceu em Roma a XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Refletiu sobre a A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja. Fruto deste Sínodo foi a publicação da Exortação Apostólica Verbum Domini. Embora alguns anos já se tenham passado, é bom lembrar a importância deste documento e a necessidade que temos de lê-lo e de estudá-lo.

Além da introdução e da conclusão, o texto está dividido em três partes.

Na introdução somos lembrados de que a Palavra de Deus deve constituir o coração de toda atividade eclesial, pois nossa Igreja nasce e vive desta mesma Palavra.

Na primeira parte, o então Papa Bento XVI recorda com muito vigor que a Palavra é o próprio Cristo por quem o mundo foi criado e redimido. Acolher a Palavra de Deus, portanto, não é um simples ato da inteligência, mas uma adesão total e livre de nossa pessoa a Pessoa de Cristo que nos abre um novo horizonte e nos aponta um rumo decisivo.

Na segunda parte é-nos lembrado que a Igreja recebe sua identidade da escuta e do anúncio da Palavra. A primeira atitude do cristão, portanto, é escutar. Só então ele pode anunciar. O cristão como já dizia o profeta Isaías é alguém que tem língua de discípulo (Is 50,4). A Palavra de Deus é viva e eficaz (Hb 4,12). Em Deus, como indica o termo hebraico dabar, não existe separação entre o que ele faz e o que ele diz. Na liturgia a Palavra é atualizada, se torna ato. Por isso a liturgia é lugar privilegiado de anúncio e escuta da Palavra. Como conseqüência na celebração dos sacramentos e sacramentais de jeito nenhum pode faltar a liturgia da Palavra. O documento chama a atenção também para o valor da celebração da Palavra em si mesma, sem nenhuma relação com os sacramentos e sacramentais. Estas celebrações “são ocasiões privilegiadas de encontro com o Senhor. Por isso, tal prática não pode deixar de trazer grande proveito aos fiéis, e deve considerar-se um elemento importante da pastoral litúrgica”.

O anúncio da Palavra de Deus ao mundo é o conteúdo da terceira parte da Verbum Domini. O Papa começa esta parte lembrando que hoje, como no tempo do profeta Amós, as pessoas tem sede e fome da Palavra de Deus (Am 8,11). A Igreja, por isso, não pode pregar a Palavra apenas para os seus. Só será a verdadeira Igreja de Cristo se for pelo mundo afora anunciando a boa nova do Evangelho. Também para nós, cristãos de hoje cabe a preocupação de São Paulo: “Ai de mim se não evangelizar” (1Co 9,16).

Para concluir o Papa faz-nos esta exortação: “Não devemos nunca esquecer que na base de toda espiritualidade cristã autêntica e viva, está a Palavra de Deus anunciada, acolhida, celebrada e meditada na Igreja.

 


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