Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 22/08/2016 às 08:39:43

Ministério da catequese

No próximo domingo, último do mês de agosto, todo ele dedicado às vocações, iremos refletir sobre o ministério da catequese e rezar pelos nossos e pelas nossas catequistas.

         A catequese é a transmissão viva do depósito da fé. Tem como específico a exposição completa e, ao mesmo tempo, elementar do mistério cristão. É uma atividade tão antiga quanto a Igreja. Como tal, é parte constitutiva da tradição eclesial. O livro dos Atos dos Apóstolos testemunha que, na primeira comunidade de Jerusalém, os fiéis “eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos” (At 2,42). Conta também que Filipe ao ver um alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, lendo as Sagradas Escrituras sem compreendê-las, imediatamente se pôs a catequizá-lo (At 8,26-39). Com sua atividade catequética, os Apóstolos irritaram seus adversários e como conseqüência foram presos (At 4,2-3). Os Evangelhos, antes de serem escritos, foram anunciados em encontros catequéticos, como muito bem se pode perceber pela forma com que são estruturados.

         Os discípulos dos Apóstolos, conhecidos como “Padres Apostólicos” e “Santos Padres” foram exímios catequistas. Orígenes que viveu no final do século II e início do século III, é um dos mais famosos. O historiador Eusébio de Cesarea conta como este jovem assumiu o ministério de catequista.

Em Alexandria, ninguém mais se dedicava à catequese, pois todos de lá haviam fugido pela ameaça da perseguição (...). Orígenes tinha dezoito anos ao começar a dirigir a escola de catequese. Progrediu muito por ocasião das perseguições (...) e seu nome tornou-se extremamente célebre, junto de todos aqueles cuja fé ele estimulava, por causa do acolhimento e zelo por ele manifestados para com todos os santos mártires conhecidos e desconhecido. (...). Dele se dizia: Sua palavra é tal qual sua vida; e sua vida corresponde à sua palavra. Por esta razão, sobretudo pelo poder de Deus que o sustentava, ele conduzia milhares a idêntico zelo (HE3,3,1-3).

 Estes primeiros catequistas também deixaram vários textos que hoje nos servem de inspiração. Muito conhecido é um texto de Santo Agostinho, escrito no início do século V, intitulado Catequese para Iniciantes. Foi escrito a pedido de um catequista chamado Deo Gratias que estava um pouco desanimado no seu ministério de catequista.

Santo Agostinho introduz seu texto com estas palavras: Pedes-me, irmão Deogratias, que te escreva algo que te ajude na instrução dos catecúmenos. Dizes-me que, frequentemente, em Cartago, onde és diácono, são-te encaminhados os que devem receber a primeira instrução catequética, pela consideração da tua fecunda capacidade de catequizar, pela solidez de tua fé, pela doçura de tua palavra, e tu, quase sempre, te angustias procurando a maneira exata pela qual deva ser ensinada essa doutrina que, pela fé, nos torna cristãos.(...). Confessas e lamentas o que te sucede com freqüência (...) tu te sentes diminuído e cheio de desgosto de ti.

Diante deste pedido Santo Agostinho poderia ter dado apenas alguns conselhos. No entanto, sabendo que as preocupações de Deogratias eram também preocupações de muitos outros catequistas, acaba escrevendo um verdadeiro tratado de metodologia catequética, muito útil ainda hoje.

         Com o decorrer do tempo, a atividade catequética foi sendo desconsiderada, mas no século XVI, por causa da reforma luterana, voltou a ser preocupação primordial na Igreja. Por determinação do Concílio de Trento, o Papa Pio V fez publicar o Catecismo Romano que devia inspirar a publicação de outros catecismos. Em nossos dias, a reforma da Igreja provocada pelo Concílio Vaticano II trouxe um novo impulso à atividade catequética. Aqui no Brasil, a CNBB, através da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética tem dado grande vigor à catequese em todo o Brasil, promovendo encontros, seminários e semanas nacionais de catequese. Em nossa Diocese, no momento podemos contar com o testemunho e o trabalho de evangelização de oitocentos e seis catequistas.

         Embora seja muito difícil agradecer como merecem, aproveito a oportunidade do Dia dos e das Catequistas para enviar a cada um e a cada uma em particular um abraço cheio de gratidão com a certeza de minhas preces para que este serviço tão importante para Igreja e na Igreja seja assumido com muito entusiasmo, fé e alegria e também para que o número de catequistas em nossa Diocese cresça sempre mais. Sem catequistas e sem catequese não existe comunidade cristã. Como lembra o Papa Francisco, “mesmo que, às vezes possa ser difícil, educar na fé é belo”. Deus na sua infinita misericórdia abençoe a todos e todas.


envie seu comentário »

Veja Também

Veja + Artigos de Dom Manoel João Francisco