Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 11/08/2016 às 09:22:09

Mulheres para o diaconato

No dia 02 de agosto último, por sugestão 900 Superioras Gerais de vários Institutos e Congregações femininas, num encontro acontecido no dia 12 de maio, o Papa Francisco instituiu uma Comissão especial para estudar a possibilidade de dar às mulheres o acesso ao diaconato. A Comissão está formada por treze pessoas, sete homens e seis mulheres e vai ser presidida pelo Arcebispo Luís Francisco Ladaria Ferrer, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé.

A proposta de ordenação de mulheres para o diaconato e para o presbiterato não é nova. Em 1977, a Congregação para a Doutrina da Fé, num documento intitulado Declaração sobre a Questão da Admissão das Mulheres ao Sacerdócio Ministerial, afirmou que, até aquele momento, a Igreja, querendo permanecer fiel ao exemplo do Senhor, não se considerava “autorizada a admitir mulheres à ordenação sacerdotal”. Em 1994, numa Carta Apostólica Sobre a Ordenação Sacerdotal Reservada Somente aos Homens, o Papa São João Paulo II declarou que “a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres”. Comentando esta afirmação, o Cardeal Carlo Maria Martini que, na época era arcebispo de Milão e especialista em Sagrada Escritura, afirmou que a palavra do Papa não era um “não” definitivo à possibilidade de se ordenar mulheres.

A Comissão recentemente instituída pelo Papa Francisco terá como missão estudar o que era o diaconato feminino na Igreja primitiva, mencionado em algumas passagens bíblicas.

Para que se possa acompanhar melhor as notícias que certamente haverão de aparecer, creio valer a pena apresentar em rápidas pinceladas o que até o momento especialistas têm refletido sobre o assunto.

É certo que na Igreja antiga houve mulheres que ocuparam cargos oficiais, que foram instituídas em algum ministério e que, ao menos em determinados períodos e em certos lugares, aparecem como membros do clero.

Como para as outras questões, também para esta, a Bíblia é o ponto de partida.

Na primeira Carta aos Coríntios, o Apóstolo Paulo fala de alguns ministérios, entre eles o da profecia. “Assim, na Igreja, Deus estabeleceu, primeiro os apóstolos; segundo, os profetas; terceiro os doutores...” (1Cor 12,28). Os profetas, no capítulo 14 desta mesma Carta, aparecem como ministros do culto. E, no capítulo 11, o ministério da profecia é atribuído também às mulheres no mesmo plano que é atribuído aos homens. “Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta desonra aquele que é sua cabeça. Por outro lado, toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra aquele que é sua cabeça; pois é como se estivesse com a cabeça raspada” (1Cor 11,4-5).

Na Carta aos Romanos, no capítulo 16 são citados alguns ministros e ministras: Febe, diaconisa da Igreja em Cencréia. Prisca e Áquila, cooperadores em Cristo. Epêneto, “primícias da Ásia” para Cristo. Maria, Andrônico e Júnia, apóstolos exímios. De todos esses ministros, detenhamo-nos apenas em duas mulheres: Febe e Júnia.

Febe: Tudo o que se sabe a respeito desta mulher é o que está escrito neste versículo da Carta aos Romanos, onde se afirma que era diaconisa. Apesar das dúvidas, uma série de razões leva a crer que o termo diácono desta passagem designa o ministério específico de diácono. O fato de se esclarecer que Febe era auxiliar de Paulo, além de protetora dos cristãos, parece indicar que o termo “diácono”, aqui, se refere a alguém que exercia um ministério oficial. Convicta de que Febe exercia um ministério específico a teóloga e biblista Elisabeth S. Fiorenza apresenta a seguinte razão: “Uma vez que o termo “diácono” é usado também em fontes extra-bíblicas para se referir a pregar e ensinar, parece claro que os “diáconos” da missão paulina serviam na qualidade reconhecida e “oficial” de pregadores e mestres missionários. Pode-se pois concluir que Febe é recomendada como mestre e missionária oficial na Igreja de Cencréia”.

Júnia:  O nome Júnia nesta passagem da Carta aos Romanos aparece no acusativo que tanto pode ser do masculino Júnias como do feminino Júnia. A pergunta é se o texto fala de um homem ou de uma mulher? Estudos de exegetas sérios concluíram que Júnias como nome de homem não aparece em nenhum texto da antiguidade. Pelo contrário, Júnia, como nome de mulher, era muito usado. Além disso, ninguém até a alta Idade Média interpretou o acusativo “Juniam” como nome de homem. São João Crisóstomo, São Jerônimo e Teofilacto, teólogos do início da Igreja, dizem expressamente que esta passagem da Carta aos Romanos designa uma mulher que, juntamente com seu esposo Andrônico, exercia o ministério de apóstola, um dos ministérios mais importantes no início da Igreja.


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