Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 04/08/2016 às 14:57:57

Jogos olímpicos Rio-2016

Neste mês de agosto, de 05 até 21 estaremos envolvidos com a XXXI Olimpíada, mais conhecida como Rio 2016. Apesar da turbulência política e econômica que estamos vivendo, manchada pela corrupção que atingiu inclusive as obras da Vila Olímpica, vamos nos deixar contagiar pelos ideais do espírito olímpico. Com certeza vamos acompanhar a cerimônia de abertura e a de encerramento. Se o tempo não nos permitir acompanhar a transmissão dos jogos, com certeza, os noticiários haverão de nos apresentar alguns flashes. Provavelmente, vamos também nos alegrar com as medalhas que nossos compatriotas haverão de ganhar, bem como lamentar seus insucessos.

Das Olimpíadas participam atletas de grandes potências esportivas e também de países que não têm nenhuma chance de medalha. No entanto, todos participam, tendo em mente o lema de um dos idealizadores destes jogos na era moderna: “o importante é competir”.

Os jogos olímpicos foram criados pelos gregos, por volta do ano 2500 a.C. Atletas das “cidades-estados” se reuniam na cidade de Olímpia para disputarem diversas competições esportivas. O evento era tão importante que o território, onde se realizavam os jogos, era declarado neutro, inviolável e sagrado. As cidades relacionadas com as provas faziam entre si acordos de paz. Os vencedores eram recebidos como heróis em suas cidades e ganhavam uma coroa de louro. Certamente foi neste contexto que S. Paulo comparou a vida do cristão com a do atleta.

Não sabeis que no estádio correm todos os corredores, mas um só ganha o premio? Correi, portanto, para consegui-lo. Os que competem se abstêm de tudo; e o fazem para ganhar uma coroa corruptível, nós uma incorruptível. De minha parte, eu corro, mas não à toa; luto, mas não dando golpe ao vento. Ao contrário, treino meu corpo e o submeto, para que não aconteça que, depois de proclamar aos outros, eu seja desclassificado (1Co 9,24-27).

À luz desta passagem bíblica, o Papa Bento XVI, hoje emérito, num discurso aos participantes de um encontro internacional sobre desporto faz a seguinte consideração: Enquanto favorece a robustez física e tempera o caráter, o desporto nunca deve distrair dos deveres espirituais quem o pratica e o aprecia. Seria como correr, segundo quanto escreve São Paulo, apenas ‘por uma coroa corruptível’, esquecendo que os cristãos jamais podem perder de vista ‘a coroa imarcescível’(cf. 1Cor 9,25). A dimensão espiritual deve ser cultivada e harmonizada com as várias atividades de entretenimento, entre as quais se insere também o desporto.

Na era moderna as primeiras Olimpíadas aconteceram em 1896, por iniciativa do francês Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin. Pouco a pouco o espírito olímpico, ou seja, o espírito de confraternização foi dando lugar às disputas entre as nações, com a política e os interesses comerciais e internacionais. Em 1972, em Munique, Alemanha, oito terroristas palestinos invadiram a Vila Olímpica. Mataram onze atletas de Israel, um policial alemão e cinco deles foram mortos. Em plena guerra fria, em 1980, 60 países liderados pelos EE.UU. boicotaram as Olimpíadas de Moscou, na Rússia. A resposta do bloco soviético foi dada quatro anos depois nas Olimpíadas de Los Angeles, nos EE.UU.

Ao restaurar as Olimpíadas, em 1896, o barão de Coubertin teve como objetivo a promoção da amizade entre os povos. Elas são, por isso, como lembrou o Papa emérito Bento XVI, “um evento de grande valor para toda a humanidade, pois as potencialidades do fenômeno desportivo tornam-no um significativo instrumento para o desenvolvimento global da pessoa e um fator mais útil do que nunca para a construção de uma sociedade mais à medida do homem”.

Estamos vivendo um período em que atentados terroristas têm se tornado frequentes. A possibilidade de algo semelhante acontecer no Rio de Janeiro existe. É preciso que as autoridades tenham grande cuidado com a segurança dos atletas e dos turistas. A nós que estamos longe, cabe rezar, pedindo ao nosso Bom Deus para que, atletas, organizadores e autoridades possam dar o melhor de si mesmos, no genuíno espírito olímpico e ofereçam à comunidade internacional um válido exemplo de convivência entre as pessoas das mais diversas proveniências, no respeito pela dignidade comum. Que o esporte possa ser, mais uma vez, penhor de fraternidade e de paz entre os povos.


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