Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 26/07/2016 às 08:42:47

Jubileu de ouro de Dom Getúlio

No dia 04 de Agosto, Dom Getúlio, nosso caríssimo Bispo Emérito, completa cinquenta anos de ordenação sacerdotal. Destes cinquenta anos, catorze e meio, ele os viveu como presbítero, ocupando vários cargos, conforme seus superiores determinavam. Os outros trinta e quatro e meio têm sido preenchidos com as atividades de Bispo. No início como Bispo Auxiliar de Dom Geraldo M. Pellanda, em Ponta Grossa. A partir de 20 de maio de 1984, como Bispo de nossa Diocese de Cornélio Procópio. No dia 01 de junho de 2014, quando acabava de celebrar trinta anos no comando das atividades diocesanas, Dom Getúlio me passou o báculo, assumindo a condição de nosso Bispo Emérito.

         Todos nós conhecemos Dom Getúlio e o queremos muito bem. Mas talvez não tenhamos ainda parado para refletir sobre a figura do Bispo Emérito. Em dois mil anos de história, os Bispos Eméritos aparecem na Igreja como inovação dos tempos atuais. Foi o Concílio Vaticano II que em outubro de 1965 prescreveu: “Uma vez que o múnus pastoral dos Bispos é de tamanha importância e gravidade, aos Bispos diocesanos (...), se, por idade avançada ou outra grave causa, se tornarem menos capazes de realizar seu ofício, com empenho se lhes roga apresentem a renúncia do ofício, seja por sua espontânea vontade, seja convidados pela competente Autoridade” (CD 21). No ano seguinte, o Papa Paulo VI, com o Motu próprio Ecclesiae Sanctae esclareceu que “por idade avançada” se devia entender setenta e cinco anos completos. Em 1970, a Congregação para os Bispos determinou que o Bispo, depois da renúncia, não fosse mais transferido para uma Igreja Titular, mas conservasse como título o nome da diocese que até então havia pastoreado, acrescentando a expressão “emérito”.  A motivação dada pela Congregação é que o Bispo renunciante conserva com sua diocese “um certo vínculo de espiritual afeto”. Desta forma eliminava-se a transferência a uma antiga Igreja particular não mais existente, que criava um certo desequilíbrio em relação aos laços criados entre o Bispo e a Igreja por ele pastoreada durante tantos anos.

Hoje, no Brasil, são cento e sessenta e sete os Bispos eméritos. A atribuição deste título não é algo simplesmente formal. Além de exprimir um verdadeiro e próprio vínculo afetivo e espiritual do Bispo com aquela que foi sua diocese, atribui outros direitos e deveres inerentes ao novo status. De fato, o instituto jurídico do emeritato episcopal, apenas em alguns aspectos, coincide com a aposentadoria. Com a aposentadoria, a pessoa rompe todos os vínculos com a empresa onde trabalhava. Com o emeritato apenas acontece a cessação do ofício de Bispo diocesano. Não se trata, portanto, de um Bispo aposentado ou em repouso, segundo o entendimento comum. É o caso de Dom Getúlio que continua em plena atividade em nossa Diocese. A partir de julho deste ano, assumiu, inclusive, o ofício de Administrador Paroquial da Paróquia São Francisco de Assis, aqui na cidade de Cornélio Procópio.

         São Gregório Magno em suas Regras Pastorais dá aos Bispos a seguinte orientação: “Tenha o pastor uma compaixão que o faça próximo de cada um e uma contemplação que o arranque da terra mais que tudo. Pela força de seu amor de pai, cuide das enfermidades dos outros. Pela altura de sua contemplação, eleve-se sobre si mesmo, desejando aquilo que não se vê. Não fique desatento com as misérias do próximo quando se entrega à contemplação. Não abandone suas altas aspirações quando se faz próximo das misérias humanas. (...). É por isso que Moisés, freqüentemente, entrava na Tenda e dela saía. Dentro, ele se alegrava na contemplação. Fora, se apressava em atender as necessidades dos que sofrem. Dentro, ele meditava os segredos de Deus. Fora, carregava o fardo dos pobres. Em suas dúvidas, ele sempre retornava para a Tenda e consultava o Senhor diante da Arca da Aliança. Assim deu, certamente, o exemplo aos pastores. (...). Também a Verdade em pessoa, que se tornou visível para nós, assumindo nossa humanidade, se dedicou à oração na montanha e realizou milagres nas aldeias. É um exemplo dado aos verdadeiros pastores. Entregues à contemplação, deixem-se ocupar com as necessidades dos mais fracos pela compaixão. A caridade se dirige maravilhosamente para as alturas quando ela se deixa, com misericórdia, atrair para as misérias do próximo. Mais ela desce com amor para as fraquezas, mais ela se dirige às alturas”.

         Com certeza é assim que Dom Getúlio tem vivido os seus cinqüenta anos de ministério sacerdotal. No entanto, o tempo é implacável. Aos poucos nossas forças vão diminuindo. Quando este momento chegar, Dom Getúlio continuará tendo como exemplo a figura de Moisés que, não podendo mais combater os inimigos do povo de Deus, subiu a montanha e de braços abertos rezava, ao mesmo tempo que Josué com um grupo de homens valentes combatia. Enquanto mantinha seus braços erguidos em oração, Josué vencia. Na medida em que deixava os braços caírem vencidos pelo cansaço, Josué perdia a batalha.  Dois jovens, Aarão e Hur, foram então em auxílio de Moisés. Fizeram-no sentar sobre uma pedra e seguraram seus braços erguidos até o pôr do sol. Só assim Josué conseguiu derrotar os amalecitas (cf. Ex 17,8-16).

         Por ora, queremos apenas abraçar e felicitar Dom Getúlio, desejando-lhe muitos e longos anos, com muita saúde e energia em nosso meio.


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