Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 15/06/2016 às 15:57:56

“Quem diz o povo que eu sou?”

No Evangelho que vai ser proclamado nas celebrações do próximo domingo, Jesus pergunta aos discípulos: “Quem diz o povo que eu sou?”. As repostas não foram unânimes.  Uns achavam que era João Batista redivivo, outros que era Elias, e outros ainda que era alguns dos antigos profetas. Voltando à carga, Jesus se dirige diretamente aos discípulos e lhes pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Pedro em nome de todos responde: “O Cristo de Deus”.

         Além de Lucas, este episódio é também relatado pelos evangelistas Mateus e Marcos, significando que este ensinamento é muito importante. No relato de Lucas, a pergunta e o ensinamento são feitos enquanto Jesus rezava com os discípulos. É próprio de Lucas colocar Jesus em oração antes de uma decisão ou ensinamento importante.

Nossa identidade cristã se define a partir de nossa fé em Jesus Cristo. Acreditar na existência de um único Deus, outras religiões também crêem.      Daí a importância de sabermos quem ele é. Por isso, em todos os tempos os cristãos precisaram responder para si mesmos quem é Jesus Cristo. As respostas, como na época em que Jesus perambulava pela Galileia, não coincidem.

Nos primeiros séculos um grupo de cristãos autodenominados ebionitas defendia que Jesus era um simples homem. Negava-lhe, portanto, a realidade divina. Um outro grupo chamado docetistas afirmava o contrário. Na opinião deles, Jesus era Deus com aparência de homem. Seu corpo era uma espécie de capa para possibilitar sua comunicação com o mundo material. Opostos a eles estavam os adopcionitas que afirmavam ser Jesus um homem comum, adotado por Deus como filho quando foi batizado no rio Jordão. Outro grupo, liderado pelo bispo Nestório ensinava que em Jesus conviviam duas pessoas: uma humana e outra divina.

Em nossos dias, continuamos com opiniões diferentes e até opostas a respeito de quem é Jesus. Nos últimos tempos tem aparecido um número incontável de escritos e romances de ficção científica sobre Jesus. Muitos destes escritos estão vinculados a correntes esotéricas. São livros que trazem títulos como os seguintes: Jesus viveu e morreu na Cachemira; A história secreta de Jesus; Jesus, o homem sem evangelhos; Jesus e Maria Madalena; Jesus esse grande desconhecido. Nesses livros são feitas afirmações provocativas contra o que consta nos Evangelhos. Por exemplo: segundo estes autores Jesus foi essênio e era casado com Maria Madalena. São escritos com objetivos sensacionalistas. Selecionam episódios de importância absolutamente secundária, deixando de lado o núcleo daquilo que Jesus ensinou e praticou: sua mensagem sobre Deus, sua defesa dos pobres, sua crítica aos poderosos, seu chamado à conversão e seu projeto de um mundo mais justo para todos. Além de livros e idéias, existem também, por parte de quem se diz acreditar em Jesus, comportamentos muito estranhos. É o caso de um deputado federal, cuja empresa tem o nome fantasia “Fé em Jesus”, apesar do seu envolvimento em grandes negócios embasados na corrupção.

Diante de tudo isso como ficamos nós? Que resposta daremos à pergunta de Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou?”. Nossa resposta deverá ser a mesma dos Apóstolos, representados por São Pedro. “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Aliás, esta foi sempre a resposta dos verdadeiros cristãos através dos bispos e papas, seus pastores e sucessores legítimos dos Apóstolos e de São Pedro. Em seu zelo de pastores, consignaram nossa resposta em algumas fórmulas, comumente chamadas deSímbolos da fé, ou Credos. O Papa Paulo VI, em 1968, ao encerrar o “Ano da Fé” que havia proclamado, foi quem pela última vez elaborou uma destas fórmulas. Assim se expressou ele: Cremos em nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, ele é o Verbo eterno, nascido do Pai antes de todos os séculos e consubstancial ao Pai. Por ele tudo foi feito. Encarnou-se por obra do Espírito Santo, de Maria, e se fez homem. Portanto, é igual ao Pai, segundo a divindade, mas inferior ao Pai segundo a humanidade, absolutamente uno, não por uma confusão de naturezas que é impossível, mas pela unidade da pessoa. Ele habitou entre nós, cheio de graça e de verdade. Anunciou e fundou o Reino de Deus, manifestando em si mesmo o Pai. Deu-nos o seu novo mandamento de nos amarmos uns aos outros como ele nos amou.Ensinou-nos o caminho das bem-aventuranças evangélicas, isto é: a ser pobres de espírito e mansos, a tolerar os sofrimentos com paciência, a ter sede de justiça, a ser misericordiosos, puros de coração e pacíficos e padecer perseguição por causa da virtude.

É este o Cristo em que cremos e seguimos, que não nos desampara, mas que espera de nós amor e fidelidade.  


envie seu comentário »

Veja Também

Veja + Artigos de Dom Manoel João Francisco