Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 05/06/2016 às 18:54:01

Santo Antonio

Juntamente com São João e São Pedro, Santo Antônio faz parte do trio de Santos que emolduram as festas juninas celebradas de norte a sul do Brasil com danças e comidas típicas. Os três são santos muito populares. Não dá para dizer qual deles é o mais popular. São João, por exemplo, é homenageado com seu nome em 220 cidades brasileiras, enquanto  Santo Antônio tem seu nome cinzelado em 236. No Estado do Paraná são quatro as cidades batizadas com o nome dele: Santo Antônio da Platina, Santo Antônio do Caiuá, Santo Antônio do Sudoeste e Santo Antônio do Paraíso em nossa Diocese. No exército brasileiro, Santo Antônio, tendo passado por sucessivas promoções, sustenta a patente de tenente-coronel com direito ao respectivo soldo.

Apesar de toda essa popularidade, poucos o conhecem em profundidade. Baseadas nas Legendas, nem todas muito seguras em suas informações, as pessoas sabem apenas que Santo Antônio foi um grande taumaturgo, ou seja, que fez e continua fazendo muitos milagres. Sabem também que é tido como santo casamenteiro, e como aquele cuja intercessão permite achar as coisas perdidas. Poucos, porém, sabem que ele foi um grande teólogo, um conhecedor exímio da Palavra de Deus, e um missionário da maior grandeza. Esta constatação levou um de seus melhores biógrafos escrever: “Santo Antônio permanece um quase desconhecido”.

            A obra escrita que Santo Antônio nos legou demonstra uma formação excepcional e profunda a respeito da Sagrada Escritura e um conhecimento variado acerca dos textos patrísticos. Como missionário, soube cativar os simples e estraçalhar o vírus da heresia, a ponto de ser chamado “martelo dos hereges”. O combate à heresia, no entanto, seria ineficaz se, ao mesmo tempo, não houvesse dentro da Igreja uma séria reforma dos costumes. Santo Antônio, não se fez de rogado. Com muita energia lançou-se também neste trabalho. Combateu com expressões duras e severas os vícios, principalmente dos religiosos e dos prelados da Igreja. Esta sua atividade foi tão marcante que outro biógrafo escreveu: “Antônio definiu-se mais como martelo de maus prelados e maus religiosos e leigos, do que como martelo infatigável de hereges”.

Certa vez, comentando a passagem do Evangelho em que Cristo diz a São Pedro: “apascenta minhas ovelhas”, faz esta observação: “Foi dito a Pedro três vezes: apascenta, e nem uma só vez lhe foi dito: tosquia. Na mesma oportunidade, referindo-se a David, diz que o célebre rei, “em casa e para com os súditos, o foi mais manso do que os outros; no trono e contra os inimigos, ninguém foi mais acutilante do que ele. E aqui recomenda David por três coisas: pela sabedoria, pela humildade e pela fortaleza. Tal deve ser o prelado que pretende governar bem o povo que lhe foi confiado. Digne-se conceder-lho Aquele que é bendito pelos séculos. Assim seja”. (Sermão na festa da Cátedra de S. Pedro).

No sermão do 2º domingo da Páscoa, refletindo sobre o Evangelho do Bom Pastor e sobre o texto do Apocalipse que fala de alguém semelhante a um filho de homem no meio de sete candelabros de ouro (Apc 1,12), assim se expressa: “Bem-aventurado é aquele prelado da Igreja que verdadeiramente pode dizer: Eu sou o bom pastor. Para ser bom, é necessário ser semelhante ao Filho do homem e estar no meio de sete candelabros de ouro, dos quais escreve São João: Vi sete candelabros de ouro. Nestes candelabros notam-se os sete predicados necessários ao prelado da Igreja: pureza de vida, ciência da divina Escritura, eloqüência de língua, perseverança de oração, misericórdia para com os pobres, disciplina para com os súditos, cuidado solícito pelo povo que lhe foi confiado”.

Igualmente são vergastados pela sua língua e pela sua pena os tiranos e usuários de seu tempo. “Ninguém considere propriedade sua o que, com violência, tirou do patrimônio comum, convertendo em luxuosas delícias o que deveria servir de alimento para muitos. Aquele pão que coloca na dispensa pertence aos famintos; aquelas roupas que tranca nos guarda-roupas, pertence aos nus; aquela moeda que enterra, representa o resgate dos miseráveis. Saiba, portanto, que comete furto contra todas as pessoas, às quais nega a caridade... Ai daqueles que, guardando grande quantidade de vinho e de trigo e bom número de roupas, afastam os pobres que de barriga vazia e seminus, batem à porta de sua casa; ou então, se derem alguma coisa, dão pouco e o pior que têm. Virá o dia em que também baterão a uma porta, aquela do céu, e ouvirão esta voz: “Não os conheço; vão embora malditos!”.

A exigüidade deste espaço não permite outros comentários. Fica, no entanto, o convite para lermos os sermões de Santo Antônio. Neles vamos encontrar pérolas preciosas que poderão ornar nossa espiritualidade e fazer mais rica a nossa ação pastoral.


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