Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 26/05/2016 às 18:00:11

Corpus Christi

Neste ano a solenidade de Corpus Christi será no dia 26 de maio. Esta é uma festa tipicamente católica. Acontece sempre 60 dias depois do Domingo da Páscoa, na quinta feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade, em alusão à Quinta Feira Santa, quando Jesus instituiu o Sacramento da Eucaristia. Tem como objetivo professar a fé na presença real de Cristo na Eucaristia e adorá-lo de forma pública e solene.

Em quase todas as cidades do Brasil a celebração de Corpus Christi é marcada pelos tapetes de flores e serragem colorida nas ruas e pelas acorridas procissões. Esta é, aliás, a orientação da Igreja que assim prescreve: “Entre as procissões eucarísticas adquire importância e significado especiais na vida pastoral da paróquia ou da cidade a que costuma ser realizada cada ano na solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo ou outro dia mais apropriado perto desta solenidade. Convém pois, que, onde as circunstâncias dos tempos atuais o permitirem e onde puder ser realmente um sinal de fé e adoração da comunidade, esta procissão seja mantida, segundo a determinação do direito”.

         A solenidade de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV em 1264. Na época as discussões sobre a presença real de Cristo na Eucaristia eram muito acirradas.

Durante os nove primeiros séculos de sua história os cristãos acreditaram, sem maiores sobressaltos, na presença real de Cristo sob as espécies de pão e de vinho. São muitos os testemunhos que comprovam esta fé.

"A Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados e que, em sua bondade, o Pai ressuscitou" (Inácio de Antioquia, Esmirn. 7,1).

"Não recebemos a Eucaristia como pão ordinário ou como uma bebida comum. Mas precisamente como nosso Salvador Jesus Cristo se fez carne pela Palavra de Deus e teve uma carne e sangue para a nossa salvação, da mesma forma também nós aprendemos que o alimento eucaristizado pela palavra de oração recebida dele é a carne e o sangue de Jesus encarnado, alimento que sendo assimilado alimenta a nossa carne e o nosso sangue" (Justino, 1 Apol. 66,2).

A partir do século IX começam a surgir dúvidas e problemas. Teólogos, na tentativa de explicar o "como" Cristo está presente nas espécies de pão e vinho, chegaram a conclusões muito duvidosas, para não dizer errôneas.

Alguns, cujo representante mais destacado é Pascásio Radberto, optando por um realismo antropofágico, afirmavam que o pão e o vinho, depois da consagração, são o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, sensivelmente tocados e partidos pelas mãos dos sacerdotes e materialmente triturados pelos dentes e digeridos pelo estômago dos fiéis.

Outros, capitaneados por Berengário de Tours, aderindo a um simbolismo nominalista, afirmavam que a Eucaristia não é verdadeira e substancialmente corpo do Senhor, mas é chamada assim só de nome, porque seria como sombra e figura representativa do corpo e sangue do Senhor.

Fugindo da radicalidade de uma e de outra posição, e ao mesmo tempo, mantendo todo o realismo da presença de Cristo na Eucaristia, teólogos como São Tomás de Aquino, desenvolveram a doutrina da transubstanciação, acolhida, no Concílio de Trento, pelo Magistério da Igreja católica, como expressão mais adequada para explicar o mistério da presença real de Cristo sob as espécies de pão e de vinho.

"Em primeiro lugar, o santo Sínodo ensina e professa aberta e simplesmente que, no sublime sacramento da santa Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e [verdadeiro] homem, está contido verdadeira, real e substancialmente sob a aparência das coisas sensíveis. Pois não há contradição nisto, que o mesmo nosso Salvador esteja sempre sentado à direita do Pai nos céus, segundo o modo natural de existir, e que, não obstante, esteja para nós sacramentalmente presente em sua substância, em muitos outros lugares (DzH 1636).

         Em tempos recentes, alguns teólogos achando que o termo transubstanciaçãojá não seria o mais apropriado para expressar a "singular mudança de toda a substância do pão no corpo e de toda a substância do vinho no sangue, permanecendo apenas as espécies de pão e vinho", propuseram como alternativa os termos transignificação etransfinalização. O Papa Paulo VI, no entanto, em sua carta encíclica Mysterium Fidei, reafirma que o termo transubstanciação continua sendo mais adequado para expressar nossa fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Segundo o Papa, o pão e o vinho adquirem uma nova significação e uma nova finalidade, justamente porque depois datransubstanciação passaram a ser uma nova realidade.


envie seu comentário »

Veja Também

Veja + Artigos de Dom Manoel João Francisco