Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 18/05/2016 às 13:08:45

Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade - Capítulo III

Dando continuidade à apresentação do Documento Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade, nesta semana vamos ver o conteúdo do III e último capítulo, intitulado Ação Transformadora na Igreja e no Mundo.

         Os Bispos recordam mais uma vez que a “Igreja é uma comunidade missionária”. Leigos e leigas, enquanto membros desta comunidade, são também missionários. Por isso, são chamados a se colocar a serviço do Reino, em diálogo com o mundo, inculturando-se na realidade histórica, inserindo-se na sociedade, encarnando-se na vida do povo. É claro que para bem exercer sua missão, os leigos e leigas precisam de formação. “A formação integral é fundamental para que cristãos leigos e leigas cresçam na fé e no testemunho, sejam fermento do Evangelho na sociedade e, como pessoas novas (Ef 4,24), contribuam significativamente, neste momento de mudança de época, para o novo que está surgindo”. No entanto, a falta de preparação não deve ser desculpa para se omitirem. Neste sentido o Papa Francisco é incisivo em sua convocação. Diz ele: “Se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação” (EG 120). Instigado por esta provocação do Papa, o cristão discípulo missionário enfrentará, como profeta, as realidades que contradizem o Reino de Deus e insistirá em dizer: “Não a uma economia de exclusão”. “Não à cultura do descartável” (EG 53). “Não à globalização da indiferença” (EG 54). “Não à idolatria do dinheiro” (EG 55). “Não à especulação financeira” (EG 56). “Não ao dinheiro que domina ao invés de servir” (EG 57). “Não à desigualdade social que gera violência” (EG 59). “Não à fuga dos compromissos” (EG 81). “Não ao pessimismo estéril” (EG 84). “Não ao mundanismo espiritual” (EG 93). “Não à guerra entre nós” (EG 98). Movido pela mesma vibração, o discípulo missionário gritará: “Não nos roubem o entusiasmo missionário” (EG 80). “Não nos roubem a alegria da evangelização” (EG 83). “Não nos roubem a esperança” (EG 86). “Não deixemos que nos roubem a comunidade” (EG 92). “Não deixemos que nos roubem o Evangelho” (EG 97). “Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno” (EG 101).

         Em sua ação missionária, o cristão leigo não pode nunca exonerar-se da preocupação pelos pobres e pela justiça social (EG 201). “Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos” (EG 48) “A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual” (EG 200). “Graças ao seu entusiasmo e ousadia missionária, o cristão leigo colocará em prática o pedido do Papa Francisco: ‘Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade”.

         Com toda esta empolgação, os cristãos leigos e leigas correm um risco: o de pensar que tudo depende deles e de suas organizações. Nossa fé, no entanto, nos diz que “se o Senhor não construir a casa, é inútil o cansaço dos pedreiros. Se não é o Senhor que guarda a cidade, em vão vigia a sentinela” (Sl 127,1). Portanto, além da ação, a missão precisa do “pulmão da oração”, da mística, da espiritualidade, da vida interior. Não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração (EG 262).

         Esta íntima relação entre ação comprometida e vida de oração “vem de uma grandeza maior que é o Reino de Deus, do qual a Igreja é germe e início, sinal e instrumento”.

         Os Bispos concluem o documento incentivando os leigos e leigas a acreditarem na própria vocação como sujeitos de uma missão específica, e expressando sua alegria e gratidão pela significativa presença deles e delas e das suas organizações nas comunidades, paróquias e dioceses, bem como no enfrentamento dos grandes desafios de nosso país, na busca da transformação dessa realidade e da construção de uma nova sociedade. Ainda na conclusão, os Bispos se propõem a acolher cada vez mais com coração fraterno a todos os cristãos leigos e leigas, valorizando sua atuação na Igreja e no mundo; ouvindo suas opiniões e sugestões; buscando seu parecer de acordo com sua competência; confiando-lhes responsabilidades e ministérios; escutando os seus apelos e os seus gritos silenciosos; reconhecendo-os em suas reais situações de vida como faziam os apóstolos (2Tm 4,19-21); apoiando-os em sua formação e organização próprias e sofrendo juntos as angústias e partilhando as esperanças da ação evangelizadora”.


envie seu comentário »

Veja Também

Veja + Artigos de Dom Manoel João Francisco