Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 09/05/2016 às 08:37:01

Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade - Capítulo II

Nesta semana vamos continuar apresentando o documento Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade, aprovado na última Assembléia da CNBB. Desta vez, vamos nos deter no capítulo II, intitulado: “Sujeito Eclesial: Discípulos Missionários e Cidadãos do Mundo”.

         No primeiro capítulo os Bispos afirmaram que o cristão leigo não é um simples “colaborador” dos padres e dos bispos, mas alguém “corresponsável” na obra de evangelização. No segundo capítulo os bispos começam dando a identidade deste cristão, sujeito na Igreja e no mundo. Seu registro de identidade apresenta as seguintes características: É o discípulo missionário, seguidor e testemunha de Jesus Cristo. É o cristão maduro na fé, que experimentou o encontro pessoal com Cristo e se dispôs a segui-lo com todas as consequências desta escolha. É o cristão que adere ao projeto do Mestre e busca identificar-se sempre mais com ele, com seu ser e agir. Vive fielmente sua condição de filho de Deus na fé, aberto ao diálogo e à corresponsabilidade com os pastores. Assume seus direitos e deveres na Igreja, sem cair no fechamento ou na indiferença, sem submissão servil nem contestação ideológica. Tem coragem, criatividade e ousadia para dar testemunho de Cristo.

         Depois de apresentar este perfil do cristão leigo sujeito na Igreja e na sociedade, os bispos fazem uma constatação desagradável. “A maior parte dos batizados ainda não tomou plena consciência de sua pertença à Igreja. Sentem-se católicos, mas não Igreja” (SD 96). Em alguns casos, porque não se formaram para assumir responsabilidades importantes, em outros porque não encontram espaços nas suas Igrejas particulares para poderem exprimir-se e agir, por causa de um excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões (EG 102) e dificulta a corresponsabilidade, o protagonismo e a participação deles como sujeitos eclesiais.

No entanto, “a renovação da Igreja na América Latina, como lembrou o Sínodo da América, não será possível sem a presença dos leigos. (...). Num Continente em que convivem a competição e a agressividade, o consumo desenfreado e a corrupção, os leigos são chamados a encarnar valores profundamente evangélicos como a misericórdia, o perdão, a honestidade, a transparência de coração e a paciência nas situações difíceis. Dos leigos espera-se uma grande força criadora em gestos e obras que manifestem uma vida coerente com o Evangelho. A América necessita de cristãos leigos em grau de assumir cargos de dirigentes na sociedade. É urgente formar homens e mulheres capazes de influir, segundo a própria vocação, na vida pública, orientando-a para o bem comum. No exercício da política, considerada no seu sentido mais nobre e autêntico de administração do bem comum, os leigos e leigas podem encontrar o caminho da própria santificação. Em vista disto, é necessário que sejam formados quer nos princípios e nos valores da doutrina social da Igreja, quer nas noções fundamentais da teologia do laicato. O conhecimento mais profundo dos princípios éticos e dos valores morais cristãos lhes permitirá tornarem-se paladinos nos seus ambientes” (EA 44).

         Aqui se faz necessário uma conversão pastoral nos moldes do que preconiza o documento de Aparecida, com “itinerários diversificados, respeitosos dos processos pessoais e dos ritmos comunitários, contínuos e graduais. Na diocese, o eixo central deverá ser um projeto orgânico de formação, aprovado pelo Bispo e elaborado com os organismos diocesanos competentes, levando em consideração todas as forças vivas da Igreja particular: associações, serviços e movimentos, comunidades religiosas, pequenas comunidades, comissões de pastoral social e diversos organismos eclesiais que ofereçam a visão de conjunto e a convergência das diversas iniciativas. Na elaboração deste projeto de formação não podem faltar a presença e a contribuição dos próprios leigos e leigas. A partir de suas experiências e competências, eles e elas podem oferecer critérios, conteúdos e testemunhos valiosos para aqueles que estão se formando” (DAp 281).

         Para encerrar o capítulo, os bispos lembram que a participação ativa dos cristãos leigos na sociedade encontra seu fundamento no mistério da encarnação. Quando imaginamos que, para encontrar e servir a Deus devemos nos elevar, no sentido de deixar as coisas do mundo, Cristo “desce” e “entra” em nosso mundo e em nossa história para assumir em tudo nossa existência. Desta forma, o cristão, para seguir a Deus, deve “descer” e “entrar” em tudo o que é humano, que constrói um mundo mais humano, que nos humaniza (cf. EG 24). Por isso, ser cristão, sujeito eclesial e ser cidadão não podem ser vistos de maneira separada. A construção da cidadania, no sentido mais amplo, e a construção da eclesialidade nos leigos é um só e único movimento (Dap 215).


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