Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 20/04/2016 às 16:44:50

Papa Francisco publica nova exortação: Amoris Laetitia

No dia 08 de abril foi divulgada a Exortação Apostólica pós- Sinodal, - Amoris Laetitia, sobre o amor na família - assinada na Solenidade de São José, dia 19 de março de 2016 pelo Papa Francisco. Trata-se do documento que conclui os dois Sínodos sobre a família: um extraordinário, realizado em 2014, e outro ordinário, em 2015.

Em nove capítulos o Papa faz uma síntese das reflexões feitas pelos Padres sinodais e, ao mesmo tempo, oficializa a orientação da Igreja no que diz respeito à pastoral familiar. As reflexões e intervenções dos Padres sinodais, segundo o Papa, são de grande beleza. Elas são como um poliedro formado por muitas preocupações legítimas e questões honestas. No entanto, não se pense que o texto é uma simples compilação do que foi apresentado nos documentos finais de cada Sínodo. O Papa faz questão de dizer que acrescentou “outras considerações que possam orientar a reflexão, o diálogo ou práxis pastoral, e simultaneamente oferecer coragem, estímulo e ajuda às famílias na sua doação e nas suas dificuldades (AL 4).

Com esta Exortação, o Papa tem em mente apresentar às famílias cristãs uma proposta que as estimule “a apreciar os dons do matrimônio e da família e a manter um amor forte e cheio de valores, tais como a generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência” (AL 5). Ele sabe, porém, que na realidade das famílias nem tudo é rosa. São grandes as dificuldades enfrentadas entre as paredes de uma casa. Por isso, com sua Exortação, o Papa também deseja “encorajar todos a serem sinais de misericórdia e proximidade para com a vida familiar, onde esta não se realiza perfeitamente ou não se desenrola em paz e alegria” (AL 5).

Sendo um documento, relativamente extenso, o próprio Papa não aconselha uma leitura apressada. Em sua opinião, o documento atingirá melhor seu objetivo se for lido por parte, tendo em conta as experiências e condições de quem lê. “É provável, por exemplo, que os esposos se identifiquem mais com o quarto e o quinto capítulos, que os agentes de pastoral tenham especial interesse pelo capítulo sexto, e que todos se sintam muito interpelados pelo oitavo” (AL 7). O que interessa mesmo é que cada um, “através da leitura, se sinta chamado a cuidar com amor da vida das famílias, por que elas ‘não são um problema, são sobretudo uma oportunidade” (AL 7). A partir do próprio título - “Alegria do Amor” – o Papa quer que a família seja vista com olhos alegres e que o “anúncio cristão que diz respeito à família, seja deveras uma boa noticia” (AL 1).

O texto inteiro foi pensado e escrito sob a luz do amor misericordioso. E, este é o critério guia em sua leitura. O Papa tem consciência de que muitos fiéis e pastores estavam esperando uma palavra mais clara, ou seja, “uma pastoral mais rígida, que não desse lugar a confusão alguma” (AL 308). Ele, porém, está convicto que “também perante as mais diversas situações que afetam a família, a Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho” (AL 309). No entanto, atitude misericordiosa não é relativismo, muito menos desleixo pelos ensinamentos da doutrina moral da Igreja. Não se pode, portanto, deixar de “ter cuidado com a integralidade da doutrina moral da Igreja, todavia sempre se deve pôr um cuidado especial em evidenciar e encorajar os valores mais altos e centrais do Evangelho, particularmente o primado da caridade como resposta a iniciativa gratuita do amor de Deus. (...). Pomos tantas condições à misericórdia que a esvaziamos de sentido concreto e real significado, e esta é a pior maneira de aguar o Evangelho” (AL 311). Ainda no contexto da expectativa por uma orientação mais segura, na nota 364, o Papa faz a seguinte observação: “Talvez por escrúpulo, oculto por detrás de um grande desejo de fidelidade à verdade, alguns sacerdotes exigem dos penitentes um propósito de emenda claro sem sombra alguma, fazendo com que a misericórdia se esfume debaixo da busca de uma justiça supostamente pura. Por isso vale a pena recordar o ensinamento de São João Paulo II quando afirmou que a previsibilidade de uma nova queda não prejudica a autenticidade do propósito”.

Não resta dúvida, a Exortação Pós-Sinodal – Amoris Laetitia – sobre o amor na família é um passo a frente em relação a outros documentos do magistério sobre o mesmo tema. Enquanto nos outros documentos o critério era a norma abstrata que acabava ocultando a beleza e o valor do matrimonio e da família, na Amoris Laetitia,  o critério são as famílias de carne e osso, das quais seria ilusão esperar uma realidade perfeita. Por isso, as leis e normas já não podem mais ser brandidas como um martelo, ou usadas “como se fossem pedras que se atiram contra a vida das pessoas” (AL 305).


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