Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 12/04/2016 às 08:17:50

Eduardo Moreira Guimarães vai ser ordenado diácono

O Evangelho do próximo domingo, quarto da Páscoa, fala de Jesus como o Bom Pastor que cuida amorosamente de suas ovelhas e jamais vai permitir que elas sejam arrancadas de suas mãos, embora muitas, ainda, continuem vagando como “ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).

         O Papa, Beato Paulo VI, determinou que, neste quarto Domingo da Páscoa, os católicos do mundo inteiro façam orações pelos padres e pelas vocações sacerdotais, a fim de que não falte quem se disponha a pastorear com zelo as ovelhas do rebanho de Cristo. Portanto, façamos deste domingo um dia especial em que nossas preces subam fervorosas ao dono da messe para que mande operários, pois a messe continua grande e os operários permanecem em número muito reduzido.

         Em nossa Diocese, no ensejo de data tão significativa, o seminarista Eduardo Moreira Guimarães vai ser ordenado diácono, tendo em vista a ordenação presbiteral no dia trinta de julho deste ano.

         Talvez alguém esteja se perguntando o que significa ser diácono. Para nós, da Igreja católica, o diaconato é o primeiro grau do sacramento da Ordem. Os outros dois graus são: o presbiterado e o episcopado. Isso significa que para ser padre é preciso que o moço antes tenha sido ordenado diácono e para ser bispo é necessário ter antes sido ordenado padre.

         Na antiguidade o diaconato foi um ministério de muito prestígio. Era considerado “os ouvidos, a boca, o coração e a alma do bispo” (Didascalia dos Doze Apóstolos, XI, 44,2-4). Devia servir todo o povo de Deus e ter cuidado especial pelos doentes e pelos pobres (Tradição Apostólica de Hipólito, 39,34). Era, por isso mesmo, chamado “o amigo dos órfãos” (Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, I,38).

         Para Santo Inácio de Antioquia, morto no início do século II, o diácono deve ser honrado como Jesus Cristo. As Constituições Apostólicas, um documento compilado no século IV, dizem que o diácono tem o lugar do Messias e como tal deve ser amado. Os leigos devem confiar no diácono, manifestando-lhe os seus desejos, sem se dirigir diretamente ao bispo, pois ninguém pode se aproximar de Deus altíssimo, senão através do Messias.

         Com o decorrer do tempo foram aparecendo alguns problemas e a ordem do diaconato foi supressa.  Por longos séculos permaneceu apenas uma passagem formal para quem desejasse ser padre. O Concílio Vaticano II, no entanto, a restaurou.  A este respeito, o Catecismo da Igreja Católica dá a seguinte explicação:

         “Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja restabeleceu o diaconato ‘como grau próprio e permanente da hierarquia’, ao passo que as Igrejas do Oriente sempre o mantiveram. Esse diaconato permanente, que pode ser conferido a homens casados, constitui um importante enriquecimento para a missão da Igreja. De fato, será útil e apropriado que aqueles que cumprem na Igreja um ministério verdadeiramente diaconal, quer na vida litúrgica e pastoral, quer nas obras sociais e caritativas, ‘sejam corroborados e mais intimamente ligados ao altar pela imposição das mãos, tradição que nos vem desde os apóstolos. Destarte desempenharão mais eficazmente o seu ministério, mediante a graça sacramental do diaconato” (CIC 1571).

         Os bispos da América Latina e do Caribe, reunidos em Puebla, em 1979, lembraram que o “diácono, enquanto colaborador do Bispo e do presbítero, recebe uma graça sacramental própria. O carisma do diácono, sinal sacramental de ‘Cristo Servo’ tem grande eficácia para a realização de uma Igreja servidora e pobre, que exerce sua função missionária com vistas à libertação integral do homem” (Puebla 697).

         Nesta perspectiva, o diácono, antes de tudo, exerce uma missão profética com as seguintes características:

a)     Pela graça recebida na ordenação, o diácono é chamado a renovar na Igreja e à Igreja o convite de Jesus a segui-lo na pobreza, e como ele, sentar-se à mesa com os pecadores, os pobres, os sem dignidade e os sem esperança;

b)    Ainda dentro desta perspectiva, o diácono é chamado a um discernimento evangélico da injustiça e da violência no mundo, fazendo crescer na Igreja uma consciência profética, que saiba por a força do Evangelho diante dos poderosos da história e dos sistemas opressivos que marginalizam as pessoas na sua busca de mais vida e mais dignidade;

c)     É tarefa do diácono dentro das situações concretas de conflito, anunciar a Palavra do Evangelho, com toda a simplicidade, mansidão e coragem, chamando todos os cristãos à perseverança, para que não troquem o caminho do Evangelho pela eficácia dos meios violentos.


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