Artigos de Dom Manoel João Francisco Dom Manoel João Francisco - Bispo Emérito

Postado dia 24/03/2016 às 11:57:30

Páscoa

A Páscoa é a festa mais importante na vida dos cristãos e das cristãs. Nela, nós celebramos o núcleo da nossa fé: a Ressurreição de Jesus de Nazaré, penhor e garantia de nossa ressurreição. Seríamos as pessoas mais estúpidas do mundo, se não acreditássemos na Ressurreição de Jesus. Este é o ensinamento que nos vem dos Apóstolos. “Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos dentre os todos os homens, os mais dignos de compaixão. Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim em Cristo, todos serão vivificados” (1Cor 15,19-22).

A Páscoa começa com o Tríduo pascal e continua durante os cinquenta dias que se seguem, até a festa de Pentecostes. De fato, foi da vontade de Deus “que o mistério da Páscoa se completasse durante cinqüenta dias, até a vinda do Espírito Santo” (Coleta da Vigília de Pentecostes). Por isso, os domingos que vêm após o Tríduo pascal não se chamam domingos depois da Páscoa, mas simplesmente domingos da Páscoa. A Igreja nos orienta para que celebremos todo este período “com alegria e exultação, como se fosse um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo” (NUAL 22). Este é um tempo em que somos convidados a fazer uma profunda experiência da vida cristã.

            A primeira experiência que devemos fazer neste período da Páscoa é a do domingo como Páscoa semanal. De fato o domingo é o dia da ressurreição de Jesus. Deste acontecimento extraordinário nasce o próprio nome “domingo”, dia do Senhor ressuscitado (cf. Dies Domini, nn.31,32,35).

As leituras deste período confirmam, à saciedade, que foi o domingo, o dia preferido pelo Senhor ressuscitado para se apresentar aos discípulos. No primeiro dia que seguia ao sábado, ou seja, no primeiro dia da semana, os discípulos se encontravam reunidos (Jo 20,1-19) E assim, oito dias depois (Jo 19,26). Nestas oportunidades “Jesus vinha e se punha no meio deles (Jo 20,19.26).

Enquanto Páscoa semanal, o domingo é também dia da mesa da Palavra e da mesa da Eucaristia. No domingo de Páscoa, Jesus, depois de ter explicado tudo o que a ele se referia, a partir das Escrituras, se dá a conhecer aos discípulos de Emaús ao partir do pão (Lc 24,1.25-27.30-31.44-47). Escutemos o que nos relata o Evangelista São Lucas: “No primeiro dia da semana, [...] Jesus lhes disse: “Ó gente sem inteligência! Como sois tardo de coração para crerdes tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que o Cristo sofresse estas coisas e assim entrasse na sua glória? E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras”. [...]. Aconteceu que, estando sentado conjuntamente à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o, e serviu-lho. Então se lhes abriram os olhos e o reconheceram...mas ele desapareceu”.

“A assembléia eucarística, como lembra o liturgista R. Falsini, é o coração pulsante do domingo, o momento vital da Igreja em contato com o Senhor ressuscitado, no banquete da Palavra e do seu Corpo e Sangue. [...] Por meio da Eucaristia, momento celebrativo, o evento da ressurreição, de passado se torna presente, de evento pessoal de Cristo se torna evento eclesial”.

Outra experiência forte que somos chamados a fazer no tempo pascal é a de que somos Igreja, ou seja comunidade de crentes que se reúnem ao redor do Senhor ressuscitado (I Domingo); recebem o Espírito de reconciliação (II domingo); e superam todas as formas de divisão: raça, língua, tradições culturais... (Domingo de Pentecostes). Neste período pascal tomamos consciência que somos comunidade da escuta, da Eucaristia e do anúncio (III Domingo). Somos também comunidade que, reunida como um rebanho guiado por seus pastores (IV Domingo), se coloca a serviço e se dispõe à partilha (V Domingo). O amor que leva o Bom Pastor a dar a vida por suas ovelhas se torna o estilo de vida de todos os que formam a Igreja caracterizada como comunidade onde os bens são repartidos de tal modo que ninguém passe necessidade.

Não podemos desperdiçar esta oportunidade. Precisamos nos despertar para a rica espiritualidade própria deste tempo pascal, e fazer dele um período de muitas bênçãos e de crescimento em nossa vida cristã. 


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